Sáficas em Cena é um projeto fotográfico idealizado por Giovanna Gialluisi e Jaqueline Barbosa, que propõe visibilizar a diversidade das existências sáficas por meio da fotografia analógica. A série retrata mulheres e pessoas transfemininas sáficas em suas singularidades sempre a partir de uma escuta sensível e de um olhar comprometido com a autenticidade dessas vivências.
O projeto nasce como resposta ao apagamento histórico das subjetividades sáficas, ainda hoje tratadas como passageiras ou ilegítimas. Ao capturar rostos, gestos, corpos e afetos, Sáficas em Cena afirma que essas pessoas existem, resistem e se reinventam diariamente, em múltiplas formas de ser e se relacionar.
As 15 imagens apresentadas neste portfólio fazem parte de diferentes ensaios que compõem o projeto, incluindo registros individuais e coletivos. Cada fotografia carrega a intenção de preservar a singularidade daquele instante — e, com ela, a presença inegociável das pessoas sáficas na arte e na sociedade.

“O nosso amor combina.” Emília e Dida.


“Sou a Maria Emília e sou Livre!! Sou artista da dança, filha da Julieta e do Silvestre, cresci pisando a terra, tomando banho de rio e cachoeira e brincando com meus irmãos na capoeira. Gosto das águas e de viver o amor!”

“Como um bom relacionamento lésbico, tudo começou com o famoso r3buc3t3io
Nós duas conhecemos a Nat no Bumble – mas nada de namoro, virou amizade! E aí, a Nat, nossa cupida, criou um grupo no WhatsApp pra apresentar a namorada dela da época e organizou um rolê. Nós já estávamos nesse grupo, trocando umas mensagens, mas sem nos conhecer de verdade. Na real, nem sabíamos se íamos, porque achávamos que ia ser cheio de gente mais nova.
Até que um dia, do nada, a Giovanna curtiu uma foto minha no Instagram. Eu, sem saber quem era, logo fui perguntar pra Nat: “Você falou de mim pra essa amiga sua?” E a Nat respondeu: “Não, não falei nada.” Então fui lá, achei o perfil da Giovanna interessante e segui de volta. Mas a interação ficou por isso mesmo… Até que eu postei “A foto” no story: uma foto analógica de dentro de um ônibus. E a Jaque respondeu: “Cara, como você conseguiu fazer uma foto dessa ficar bonita ”
E foi aí que a conversa deslanchou. A gente começou a falar mais, e finalmente decidimos ir no rolê da Nat. Chegando lá, começamos a conversar… e, a gente que achava que seria um rolê cheio de gente jovem, fomos as únicas que ficaram até o final, as “mais velhas” do grupo! Desde então, estamos juntas “


“Somos um casal que tem muitas coisas em comum…. amamos tomar vinho na cama, ler juntas no metrô, conversar sobre absolutamente tudo.
Somos bem sapatão clichê… morar juntas com 1 mês depois do primeiro encontro, aliança de madeira (não de coquinho), apelidos bregas e agarramentos constantes.
Enfim…nos amamos muito!!!”

“oie!
eu sou a manu! sou uma mulher trans, branca e bissexual, eu lutei muuito pra ser essa manu que sou hoje, mas também naveguei demais pelos mares do auto conhecimento até me entender como uma pessoa bissexual, além de uma mulher trans.
independente de com quem estou, essa ainda sou eu, puramente eu, e eu tenho muito orgulho de ser tudo isso, pq só eu sei o quão difícil foi chegar até aqui.
amor é amor!”

“Tem uma música que diz “seus olhos são espelhos d’água, brilhando você pra qualquer um”. Guta é assim, brilha, seus olhos sorriem antes mesmo que sua boca. Eu diria, no entanto, “seus olhos são espelhos da alma”, e é louco porque talvez nem em alma eu acredite, mas eu acredito no que seus olhos dizem, pois eles transmitem verdade, afeto, carinho, amizade, companheirismo. Eles me acolhem e me abraçam quando me sinto perdida, frágil, quando tudo que preciso é do seu abraço. Eles também vibram e comemoram minhas conquistas, além de rir das minhas bobagens. Eles me dizem tanto… Aliás, adoramos fofocar e ficar conversando por horas, então enquanto as palavras voam, nossos olhos tagarelam. Nos comunicamos pelo olhar, na maior parte do tempo não precisamos de palavras, mas gostamos de dize-las. Então, embora você já saiba só de olhar pra mim, eu digo: “Te amo”. Você é mais que uma amiga, você é família, é irmã, você é Guta.” – Maria
“Toda vez que estou com ela, eu conheço de novo quem é Maria. Não por uma inconstância e sim pelo contrário, pela profundidade dessa que numa troca de olhares numa festa nos apaixonamos, numa troca de ideias nos identificamos e numa troca de carinhos nos vulnerabilizamos ao infinito. Verbos certeiros, intuição afiada e colo que alenta. Maria é potência sensível, ela é sorriso eufórico e choro sincero, ela é impulso de vida pra todes, principalmente pra ela. Amante, irmã, companheira, amada e amorosa, de todas as formas sigo apaixonada por esta que são muitas e ao mesmo tempo é tão única. Sorte a nossa nos termos, sermos tão diferentes ao mesmo tempo que tão parecidas, sorte de entre nossos caos seguirmos nos encontrando.” – Guta



“não duvidar do amor, do acaso, do encontro. dispensar ponteiros, avançar nas horas, escrever cartas, começos, caminhos. trocar o disco, virar a página. aproveitar os minutos como se estivéssemos frente a frente com o próprio divino e não quiséssemos perdê-lo de vista. sei que o fato de viver com autonomia se faz intimidador, principalmente no descuido. mas “no viver tudo cabe”, não é? por isso a vida também se faz bonita.
não carregar muitas certezas, nem juízo, mas sonhar a cada encontro. abençoada seja a sorte, o destino, os orixás, o universo, as escolhas em comum, tudo ou nada disso.”

“Olá, meu nome é Natalia Prince e tenho 28 anos. Sou uma mulher cis, branca e lésbica, e desde que me conheço por gente, a arte sempre fez parte da minha vida. Hoje, me desenvolvo profissionalmente como artista, criando obras em telas, murais e principalmente na pele das pessoas.
Recentemente, descobri uma paixão intensa pela dança, que tem sido fundamental para a minha saúde mental. A dança me faz sentir viva e presente, trazendo uma nova dimensão à minha expressão artística e ao meu bem-estar.
Um dos grandes pilares da minha vida é a conexão com a espiritualidade. Essa relação me guia e me orienta na busca do meu caminho e propósito. Acredito que somos aquilo em que investimos nossa energia e atenção. Por isso, busco alimentar hábitos, pensamentos, lugares e relacionamentos que me fazem despertar e me aproximar do meu verdadeiro eu.
Estou sempre em busca de crescimento pessoal e artístico, e tenho a certeza de que cada passo nessa jornada me leva mais perto do que realmente sou.”


“Rayane, 25 anos, mulher cis, branca, lésbica. Eu passaria horas escrevendo com certa facilidade sobre tudo o que me toca e sobre todos os atravessamentos que me transpassam, mas confesso que nunca me coloquei em exercício para falar sobre mim. Tenho o dna de uma cidade pequena do interior de Minas Gerais, mas com a coragem dos impetuosos abracei o caos da metrópole, porque também me sinto imensa, barulhenta, preparada para abraçar as esquisitices alheias e amar até as ruínas dessa cidade.
Me coloco no mundo como uma pessoa com alma de água e aço. Água doce profunda, correnteza, aço de espada que corta cabeças, irreverente. Criadora e criatura, afinal, existir como uma mulher lésbica é um grande ato de coragem. Desejo não passar ilesa da vida, não perder o olhar, não perder o encanto, não neutralizar a tragédia, encarar a vida com mais pele e menos punho, como se eu estivesse à beira de um precipício sem proteção e sem paraquedas. Tenho medo de pular, mas o que faço com a vontade de cair?”