Nasci ao lado do Cine Azteca, no Catete. Comecei a frequentá-lo aos três anos de idade. Aos sete testemunhei sua demolição a marretadas. Um impacto brutal, que me deixou marcas profundas e me ensinou, precocemente, que a cidade também sofre mutilações. Com o tempo, compreendi que a queda do Azteca era o primeiro ato de uma lenta e melancólica desertificação: as salas de rua foram silenciando suas telas. O que antes era encontro virou ausência. O que foi espaço de convívio e reflexão coletiva, virou vazio. Resgatar o cinema de rua é romper o ciclo da alienação. É devolver à cidade e ao seu povo o direito ao encontro, ao debate e à arte que transforma.
O trabalho Salve o Cinema nasce dessa vivência: atravessado pela infância que viu seu primeiro cinema ruir, e pelo adulto que ainda caminha pela cidade sentindo a falta desses espaços. É uma reflexão sobre as memórias que insistem em resistir, sobre os lugares que desapareceram e sobre a urgência de ocupar, mais uma vez, esses territórios de sonho e pertencimento.