‘Tu’, essa maneira carinhosa e cerimoniosa pela qual nos dirigimos àquelas pessoas que nos são mais próximas, tem para mim um afeto acrescido quando grito do portão de meu pai para designar o pequeno Artur, apenas por isso mesmo: TU.
Tu é meu irmão tardio, 29 anos nos separam. Agora mesmo ele, a mãe e o pai se adiantam numa nova experiência de vida. Aos dez anos, nascido e crescido em Fortaleza, Tu se adapta à vida periurbana em uma casa azul na área verde do Ancuri, em Itaitinga no Ceará, um pedacinho do nordeste brasileiro. Com síndrome de down, Tu se adapta todos os dias ao mundo pré e pós-pandêmico.
E eu, na condição de fotógrafo, irmão e padrinho, sem filhos, tenho aprendido muito em nossa convivência. Esse ensaio é sobre nossas lúdicas partilhas fotográficas, mas principalmente sobre as descobertas que Tu faz a cada dia em sua nova morada entre cães, plantas e abelhas. Nos últimos 03 anos, eu e Tu temos brincado com câmeras analógicas de diversos formatos, 35mm, 120mm, pinholes, dupla-exposição, de maneira a produzir um outro tipo de registro de nossos encontros – um diálogo entre o acervo eletrônico familiar e visualidades mais sutis em termos de foco e cor.
Além disso, Tu desenha mapas e planos infalíveis que alimentam o diálogo entre o fotográfico e o imaginário. Trata-se de um jogo de alteridade e ancestralidade, de interseção entre o paterno e fraterno, de aproximação entre um corpo negro de 40 anos e de um corpo de 10 anos com síndrome de down. O lápis que acompanha este livro é um convite às crianças de quaisquer idades partilharem de suas lembranças, desenhando casas, mapas e florestas.