“Um recado para mim mesma” é um documentário explorando a linguagem visual tendo início em 2019, sobre como tento lidar com a minha crise de identidade seguida de crises de ansiedade, aprofundando-me na montanha-russa emocional que a vida muitas vezes nos coloca.
Se houvesse algo que eu pudesse te dizer algo agora, você sabe que eu diria, mas no meio dessa confusão, tentando compreender tudo isso, sinto-me tão só E talvez você também saiba disso. Mas sou a única ouvindo essa voz dentro da minha cabeça, a único sentindo esse coração bater dentro do meu peito, a única tento lidar com todo esse friozinho no estômago. Toda essa dor, todos esses pensamentos, todas essas perguntas. Mas talvez você também sabia disso.
Talvez bem provavelmente já tenha passado por algo assim ao menos uma vez. Não é mesmo? Talvez também tenha se questionado: Quem somos nós? O que nos torna, nós? Exclusivamente nós? O que nos leva a desempenhar esse papel, a acreditar no que acreditamos, a definir nossos valores, a experimentar a vida como fazemos? E simples assim, construímos nossas identidades ao longo do caminho, ao longo de nossa jornada única que nos torna quem somos.
Mas a verdade é que nós, seres humanos, ainda encontramos dificuldades. Ainda há momentos em nossas vidas que duvidamos de nós mesmos, nos questionamos. Ainda, algumas vezes, perdemos completamente a perspectiva de quem somos, principalmente quando nos deparamos com mudanças radicais e estressantes em nossas vidas. Somos pego pela tormenta, presos à espiral da crise, crise de identidade, crise de ansiedade. Às vezes, na vida real, não é tão simples encontrar nosso próprio lugar no mundo, às vezes não é tão fácil fazer as pazes com nós mesmos.
Mas acredito que talvez esse seja os conflitos mais importantes de uma vida, onde podemos honestamente olhar, interpretar e investigar diferentes formas o nosso eu. Especialmente em tempos como os de hoje em dia, pós-pandêmico, conflituoso, que somam tantos fatores preocupantes e incertezas em nossas vidas, onde nossa saúde mental não pode mais ser deixada de lado, completamente ignorada. Imagine que apenas durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19 a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%, de acordo com dados científicos divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Então deixemos que esta jornada, através de imagens e textos, documente e explore meus sentimentos conflitivos, deixemos que complete sua missão, e que nos permita retornar de volta para nós mesmos.
Em 2019, ouvi da minha terapista que estava passando por uma crise de identidade que evolui para ataques de ansiedade. Que não deveria ignorar e tentar acompanhar meus sentimentos e como eu reagia, para não acabar evoluindo para um quadro de depressão. Tem sido um caminho difícil, lidar com todos os fatores externos de extresse da vida, as mudanças abruptas, toda essa crise de ansiedade. De volta ao Brasil, plantei esta alfazema, ela cresceu e floriu, e agora também me ajuda a dormir e me ensina lições valiosas sobre o tempo e a vida.A fotografia sempre me ajudou a encarar tempos difíceis, e teve um papel crucial desta vez, me ajundando não apenas a me encarar mas a explorar meus sentimentos, minhas tristezas, encarar a mim mesma. Desta vez, me despi, corpo e emoções, tentando entender como eu poderia me reconectar de novo com o meu eu.Alguns meses se passaram desde meu retorno ao Brasil, o que me ajudou a recuperar minha sanidade. Os dias que passei na Argentina foram o começo da minha claridade, onde eu pude respirar por um breve momento sem todos os tormentos que vinha encarando neste momento. Foi o começo do meu retorno para mim mesma.Alguns dias são mais difíceis que outros, alguns são de uma quietude sem fim onde eu lutava para encontrar forças para sair. Algumas vezes tive que me forçar a continuar. Mas há beleza e uma força em todos os lugares, a fotografia me ajudou a enxergar isso, mesmo nos pequenos detalhes do dia a dia da vida. Esta observação visual, destes pequenos detalhes, dos diferentes sentimentos, especialmente entre as crises de ansiedade, me ajudara a compreender alguns aspectos de mim mesma. Mesmo quando tudo parecia desesperançoso, mesmo quando tudo era muito para encarar de uma vez só.O mais inesperado dos sentimentos – a calmaria antes da tempestade. Que bizarro sentimento, o de estar no limite dos opostos. (…) E agora posso ver, que era isso que me fez sobreviver, simplesmente como se a vida me levasse de volta a superfície para que pudesse dar um respiro profundo antes de ser atingida pelo que estava por vir. Aquele respiro fundamental para que possa pegar ar suficiente para passar por isso. O sentimento mais puro e instintivo de sobrevivência passando a tomar o controle.Alguns dias simplesmente são maiores do que eu, hoje posso reconhecer isso.Nó na garganta A agonia de alguns dias que não me deixam pensar direito Só espero não esquecer de respirar, só espero não ceder ao desespero.É difícil compreender o que significa saúde mental. Comecei a perceber isso apenas quando comecei a ver a consequência no meu corpo. Quando já não era apenas mental, era físico. Meu corpo não consegui mais lidar com isso, perdi mais de 10 quilos em tão pouco tempo, sem nem mesmo perceber. Nem vi quando e como isso aconteceu, todas essas mudanças no meu corpo. Estava perdendo também minha saúde física.Estava indo até que bem, mas com toda essa loucura, e agora 07 meses mais tarde meu corpo já não consegue mais, nem mesmo a minha rotina de exercício está me ajudando mais. Não está funcionando como antes e tudo isso é tão exaustante.Quem é você? Sem todas as suas coisas, sem seus títulos, sem seus pronomes? Porquê não sou meu nome, nem minha profissão, nem meus bens. E todos aqueles adjetivos que me descrevem, muitas vezes, não contam quem sou. Porque sou a filha, a amiga, a fotografa a dançarina. Ou até uma imigrante, escaladora, e ainda, estas palavras não me dizem que eu sou. Porque tem uma variedade de advérbios que poderia adicionar a tudo isso. O que me faz ser eu? Quem sou eu? Obs: Às vezes a vida de uma imigrante é um fardo muito pesado de se carregar. (pedaço de uma das minhas anotações durante minhas crises)Deixe ir Deixe fora Deixe ser Deixe… Era tanto choro, e agora percebo que as lágrimas eram meu corpo gritando, esperneando e tomando o controle. Antes pensava que chorar era um sinal do meu corpo desistindo. Mas agora percebo, que era o oposto, o choro tirava todo o peso do peito e forçando a dormir um pouco, para recarregar as energias – a energia necessária para me manter e me fazer continuar.
“A fotografia sempre combinou todas as minhas paixões, todas as minhas escolhas, todas as minhas curiosidades. Sempre foi a melhor desculpa: desculpa para ir, para estar lá, para contar, para escutar, para voltar, para saber um pouco mais. Sempre me faz pensar, olhar, lembrar, pausar (...)” Tudo começou a tempos atrás, quando ainda uma menina secretamente pegava a câmera do seu pai emprestada. Mais tarde esta paixão leva ao bacharelado em Fotografia pelo Centro Universitário Senac em 2005. Em 2011, muda-se para Paris para se especializar em Fotojornalismo pela Spéos Paris Photographic Institute (Paris, França). Sua carreira profissional como fotojornalista freelancer começa em 2007 e desde então trabalha para a agências, jornais e assessorias de imprensa.
Alinne Rezende já participou de exposições em vários países tais como Brasil, Inglaterra, França, Holanda, Chipre, Uruguai e Alemanha. Em 2016 foi pré-selecionada para o Athens Photo Festival, em 2020 recebeu menção honrosa em Budapest International Foto Awards 2020 Editorial / Photo Essay. Em 2021 ganhou uma bolsa para a mentoria de Sebastian Liste (Noor). Ativa no mundo da fotografia, é membra do Woman Photograph e também do collective global The Journal onde em 2020 juntamente com Lucia Moron, organiza e faz a curadoria da exposição “Mulheres no Mundo e o COVID-19” no metro de São Paulo e em 2021 colabora com a curadoria de João Kulcsar na exposição “Oceano Alterado” no Sesc Santo André.
Em 2022 ganha Visura Lifetime sponsorship. Em 2023 passa da primeira fase do Word Press Photo 2023 na categoria Open Format South America.
Atualmente, encontra-se entre Brasil e Europa, além de fotojornalista, também trabalha com fine art e fotografia documental, onde passa a explorar a estética e a poética das imagens juntamente com seu contexto social.