Em Cunha, interior de São Paulo, Gabriela Fernandes tece um trabalho que une design, antropologia e devoção documental. Aos 32 anos, a diretora criativa e fotógrafa transita entre seu estúdio e as estradas do Brasil através do Percurso Vivo – projeto autoral itinerante dedicado ao registro das festas e manifestações da cultura popular brasileira. Formada em Design Gráfico com especialização em Antropologia Cultural, ela encontrou na fotografia não apenas uma linguagem, mas uma missão: perpetuar fragmentos vivos da memória coletiva do país.
Sua imagem “Futuro Ancestral“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um poderoso símbolo dessa busca. Registrada durante a Festa de São Benedito em Aparecida (SP) – maior encontro de congadas do estado –, a fotografia captura um momento de rara poética: sobre os trilhos de um trem, que se estendem como linha do tempo, um pai congadeiro carrega nos ombros o filho, ambos vestidos com as roupas tradicionais da festa popular. Mais do que uma cena familiar, a imagem revela a transmissão concreta de um legado – quem se faz presente não são apenas pai e filho, mas todas as gerações anteriores que mantiveram viva essa tradição como ato de resistência. O trabalho sintetiza três anos de pesquisa dedicada a documentar manifestações culturais, mostrando como a herança ancestral é carregada literal e metaforicamente para o futuro.
Conheça mais sobre esta jornada de registro e salvaguarda cultural na entrevista a seguir.
“Enquanto os encantos ecoam do mar, a mesma água que salga cura.” – Imagem do Portfólio Percurso Vivo, de Gabriela Fernandes, selecionado no Prêmio Portfólio FotoDoc 2025
– Imagem do Portfólio Percurso Vivo, de Gabriela Fernandes, selecionado no Prêmio Portfólio FotoDoc 2025
Tenho 32 anos e vivo em Cunha, no interior de São Paulo. Sou formada em Design Gráfico, com especialização em Antropologia Cultural, e atuo como diretora criativa no meu estúdio, onde desenvolvo projetos de design e animação. Paralelamente, conduzo o Percurso Vivo, um projeto autoral itinerante de pesquisa e registro — em fotografia e documentário — das festas e manifestações da cultura popular brasileira.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Minha primeira aula de fotografia foi aos 13 anos, em uma oficina da escola. Lembro que o professor, um fotojornalista, nos ensinava as regras para que pudéssemos quebrá-las. Ele dizia que devíamos segurar a câmera com firmeza, e nos desafiava a enxergar além do que estava diante dos olhos. Podíamos fotografar como quiséssemos — contanto que houvesse intenção.
Quase vinte anos depois, sigo completamente apaixonada pela fotografia e buscando enxergar além do que se vê. Nos registros das manifestações culturais brasileiras, encontrei meu propósito, onde posso, de alguma forma, ajudar a perpetuar e salvaguardar fragmentos da nossa cultura. Hoje, a fotografia documental ocupa um lugar central na minha vida. Qualquer oportunidade de registrar é inegociável — seja numa Folia de Reis, numa Festa de São Benedito ou em qualquer celebração que mantenha viva a memória coletiva.
“Estava capinando,
A Princesa me chamou
A levanta, Nego CATIVEIRO SE ACABOU”- Imagem do Portfólio Percurso Vivo, de Gabriela Fernandes, selecionado no Prêmio Portfólio FotoDoc 2025
A fotografia “Futuro Ancestral” foi registrada em Aparecida (SP), durante a Festa de São Benedito — o maior encontro de congadas do Estado de São Paulo. Faz parte de uma pesquisa que realizo há mais de três anos, dedicada a documentar manifestações culturais brasileiras.
Na imagem, sobre os trilhos do trem, como em uma linha do tempo, um pai congadeiro carrega o filho, também vestido com o traje da congada. Quem se faz presente na foto não são apenas pai e filho, mas todos aqueles que vieram antes deles mantendo as tradições como um ato de resistência.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Meu principal projeto hoje é o Percurso Vivo, em que registro, por meio de fotografias e documentários, as manifestações da cultura popular brasileira.
Meu objetivo é ampliar cada vez mais esse mapeamento, alcançando festejos ainda pouco conhecidos, para revelar e compartilhar com o mundo toda a riqueza e a beleza do Brasil.