Personagens e personalidades

Karime Xavier e Mônica Zarattini por Toni Pires

O Encontro organizado em parceria com a Arfoc-SP traz duas fotógrafas associadas, Karime Xavier e Monica Zarattini, entrevistadas pelo também associado Toni Pires.

Com uma trajetória como pesquisadora, editora e ativista, Mônica Zarattini também é fotógrafa documental e apresentou o projeto Plano, Seco e Pontiagudo, realizado em Canudos (BA), a partir de imagens captadas em 1989 e 2016. O trabalho resultou em um fotolivro publicado pela Editora Madalena em 2018. A fotógrafa apresentou o processo de edição do livro, sua forma de financiamento e o desdobramento na forma de exposição realizada em ocupações da região central de São Paulo (SP).

Karime Xavier tem um trabalho instigante com retratos, construído a partir de uma soma de pautas as mais variadas para o jornal Folha de S. Paulo, o que permitiu a ela consolidar uma galeria tão ilustre quanto heterogênea. O que dá coesão a esses retratos é uma abordagem sempre inovadora tanto do ponto de vista da cenografia como da iluminação. Karime contou sobre seu processo criativo e as interações que resultam nos retratos. Um precioso debate foi realizado no diálogo com Toni Pires, que atuou como editor de fotografia na Folha de S. Paulo quando Karime também atuava no jornal.

Fotografia humanista

André François e Emidio Luisi por Ivana Debértolis

O Encontro reúne dois expoentes de uma fotografia humanista. O Encontro reúne dois expoentes de uma fotografia humanista. Ao longo de sua trajetória, Emidio Luisi realizou um extenso trabalho de fotografia de espetáculo e também de etnofotografia, tratando de temas relacionados à cultura popular e às suas raízes familiares italianas. Também foi responsável pela formação de dezenas de fotógrafos em seus cursos na Fotograma Imagens.

Há mais de 30 anos, André François realiza documentários fotográficos pelo Brasil e pelo mundo. Em 1995, fundou a ImageMagica, ONG que desenvolve projetos de impacto social em todo o país. Desde 2006, André realiza um amplo registro fotográfico na área da saúde. Ao longo de 13 anos e viajando por 15 país, André desenvolveu o projeto: Ubuntu – Eu Sou Porque Nós Somos, um documentário fotográfico que visa sensibilizar as pessoas sobre a importância da saúde e da qualidade de vida por meio do cuidar e da conexão entre as pessoas.

Produzir a paisagem e resgatar a memória

Fernando Banzi e Lucas Lenci por João Kulcsár

O Encontro debateu formas de produzir a paisagem e de resgatar a memória por meio da fotografia. Lucas Lenci apresentou a série Utopia, na qual realiza a criação de paisagens ficcionais que mesclam o urbano e o rural. O fotógrafo contou sobre a gênese e a proposta do trabalho, que traz um claro viés crítico em relação à separação operada entre campo e cidade. Além disso, faz um breve percurso histórico sobre as relações entre a fotografia e a ideia de “verdade” – a imagem fotográfica, um registro direto do real, está suscetível à manipulação desde o seu princípio.

Para produzir a série de fotopinturas Memória Galega, Fernando Banzi mergulhou em arquivos de famílias que imigraram da Galícia para o Brasil nas décadas de 1950 e 1960, período em que o ditador Francisco Franco governava a Espanha. Ao resgatar e dar novas colorações a essas imagens, Banzi ativa o circuito da memória, não somente social como afetiva, e transpõe o álbum de família para o circuito público da arte. No Encontro ele apresenta também a série Máscaras, feita a partir de imagens de arquivo que exibem pessoas portando todo tipo de máscara. O trabalho traz também um viés crítico diante da bruta realidade da pandemia.

Passagens

Betina Polaroid e Marcio Scavone por Paulo Marcos de Mendonça Lima

O Encontro propõe um debate sobre as passagens entre a fotografia e a literatura, o documental e a ficção. A drag queen e fotógrafa com uma queda pela fotografia instantânea analógica, Betina Polaroid, conta um pouco sobre seu trabalho desde que chegou à cena em 2015. Personagem encarnada por Beto Pêgo, ela se dedica a retratar artistas queer e registrar seus próprios processos de transformação, transitando entre o analógico e o digital assim como transita entre fronteiras corporais e de gênero, levando a fotografia e a performance drag a uma expressão artística única.

Marcio Scavone é um dos mais versáteis e líricos dentre os grandes fotógrafos brasileiros da atualidade. Conhecido pelos retratos memoráveis de grandes personalidades da cena cultural brasileira, ele se enveredou por projetos variados ao longo de sua trajetória, além de ocupar a cadeira de número 9 na Academia Paulista de Letras. No Encontro ele se concentra sobre um de seus projetos mais recentes, Fuga, que está representado no filme homônimo criado por Maria Alice Arida. O filme foi projetado durante o festival, mas como ainda não foi lançado oficialmente, reproduzimos o trailer nesta íntegra do Encontro.

Sob o impacto da perda

Alicia Esteves e Tadeu Vilani por Sérgio Branco

Um Encontro especialmente emocionante reuniu Tadeu Vilani e Alicia Esteves, filha de Juan Esteves, grande fotógrafo, jornalista e curador que nos deixou no ano de 2024. Alicia contou um pouco da trajetória de seu pai como fotógrafo, permeada de detalhes e histórias que somente alguém que viveu de perto pode testemunhar. Sérgio Branco, editor da revista Fotografe, apresentou o lado jornalista de Juan Esteves. Como colaborador da publicação, escreveu uma série de matérias com grandes nomes da fotografia internacional e também com novos talentos. Uma homenagem mais que merecida a Juan Esteves, que participou das duas primeiras edições do Festival FotoDoc.

O gaúcho Tadeu Vilani, conhecido pela documentação em profundidade sobre o pampa que vem desenvolvendo desde 2011 e um dos ganhadores do Prêmio Portfólio FotoDoc 2023, veio contar ao público e mostrar por meio de suas imagens quais foram os impactos das enchentes históricas no Rio Grande do Sul em 2024. Seu trabalho se une assim à temática das mudanças climáticas, que ganha cada vez mais urgência no debate atual. Uma seleção de 10 imagens de Vilani realizadas em Porto Alegre está presente na Exposição Distopia, que faz parte da programação do Festival FotoDoc.

Estúdio no jardim e outras histórias

Elspeth Diederix e Erik Vroons por Paula Cabral Tacca

Ao celebrar sua terceira edição, o FotoDoc se transformou em Festival Internacional de Fotografia, contando com a presença de dois convidados dos Países Baixos, a fotógrafa Elspeth Diederix, e o curador e editor Erik Vroons.

Elspeth Diederix apresentou suas séries em que mescla iluminação de estúdio com paisagens externas para fotografar plantas, flores e jardins. Por meio de uma iluminação controlada, ela consegue ressaltar aspectos, cores, formas, criando assim uma cena ao mesmo tempo realista e fantástica. Por meio de suas obras, Elspeth traz uma nova interpretação ao mundo vegetal, dialogando com toda uma tradição da pintura de natureza morta. A fotógrafa também mostrou trabalhos realizados embaixo d´água, transportando objetos do cotidiano para o universo submerso dos oceanos e revelando a flora no fundo do mar.

Erik Vroons, curador e editor da revista GUP, traz um panorama da fotografia holandesa contemporânea, com alguns nomes que considera mais relevantes e buscando captar o como o espírito geral da cultura do país está representada nesses trabalhos. As apresentações foram realizadas em inglês e em breve disponibilizaremos as legendas em português.