“Essa cidade condenada à nostalgia, atormentada pela miséria e pelo frio, ainda é uma ferida aberta do sistema colonial na América: uma acusação.”
– Eduardo Galeano, “Veias abertas da América Latina”, p.56
O Brasil vive aprisionado à sina dos colonizados: seu futuro foi determinado pela demanda de potências estrangeiras. Os produtos que cruzavam os mares do novo para o velho mundo fizeram, de suas terras natais, tesouros a serem pilhados. No caso da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, o tesouro foi o diamante. Durante centenas de anos diamantes foram arrancados dos solos abundantes até a terra secar. Hoje restam as cicatrizes deixadas pelo processo garimpeiro, evidências do sistema de exploração das terras do novo mundo.
A serra que chorou é um projeto que, ao investigar a memória do garimpo, fala do aprisionamento em que foram encerradas as populações locais pelo processo de colonização.
As marcas físicas deixadas pela atividade mineira na região criaram minas abandonadas que rasgam o chão. Fotografadas de dentro para fora, só vemos uma única luz a entrar pela fresta. A luz que brilha como o diamante – a ilusão da riqueza – é também o feixe que ilumina uma cela de prisão.
Os moradores da Chapada que tem relação direta ou indireta com a era do garimpo são os últimos que carregam essas histórias. Retratados dentro das minas que eles ou seus ancestrais trabalharam, revelamos estes personagens com pouco incidência de luz, como se confinados dentro das minas.
Um lago que é, na verdade, um poço artificial, criado para lavar a terra produzida pela escavação; rochas que se erguem como monumentos não foram esculpidas por processos naturais, mas retiradas da terra na busca por diamantes; fendas que cortam as rochas hoje são as entradas de diversas minas abandonadas. Estas paisagens que se mesclam com a flora local são um atestado da manipulação do homem.
Na serra, hoje, brilham somente as luzes dos povoados que abrigam as poucas famílias remanescentes da era do diamante. As vidas que ficaram quando os colonizadores, já abastecidos de riquezas, partiram.
“A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra”.