Na manhã do Sábado de Aleluia, quando o sol ainda hesita entre a sombra e a luz, as escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas se tornam palco de um ritual que atravessa séculos e pulsa no presente. A Lavagem das Escadarias é mais do que um ato: é um eco dos tambores Bantus, uma dança entre o sagrado e a resistência, uma celebração que molha o chão e rega a memória.
Nesta série de fotografias em preto e branco, o contraste revela a força dos gestos. O brilho da água sobre a pedra antiga transforma cada degrau em um espelho da ancestralidade. As mãos que seguram os baldes não apenas lavam, mas escrevem história. O líquido sagrado desce lentamente, limpando não só a superfície do templo, mas também as marcas invisíveis de intolerância e esquecimento.
Há corpos em movimento, saias rodadas que giram como ventos ancestrais, olhos que carregam a sabedoria de tempos imemoriais. Os pés descalços encontram o solo como quem saúda a terra-mãe, enquanto cânticos se elevam e se misturam ao som das águas.
Mais do que um rito, este momento é um grito contra o racismo, contra a discriminação, contra todas as tentativas de silenciar uma cultura que insiste em florescer. É um ato de fé e resistência, de visibilidade e pertencimento. Um patrimônio imaterial que respira em cada gota d’água lançada sobre os degraus, renovando não apenas a pedra, mas a própria cidade.
Que esta série de imagens seja um convite para olhar além das formas e enxergar a essência. Para compreender que lavar é também semear. Que a história, quando escrita com água e ancestralidade, jamais se apaga.