No bumba-meu-boi do Maranhão, o corpo dança com a fé e com o chão. É rito e riso. É suor e reza. Diferente de outras manifestações que têm o boi como símbolo, aqui cada bordado, canto e movimento nasce de um entrelaçar de mundos: o dos santos católicos e o dos orixás, voduns e encantarias afro-indígenas.
Entre o sagrado e o profano, entre a rua e o terreiro, a festa acontece porque o boi vive — e a vida acontece porque o boi dança.
É assim que Catirina e Pai Francisco atravessam o tempo: em indumentárias que brilham como altar, em corpos pintados de devoção, em máscaras que escondem e revelam, em batuques que curam.
Neste ensaio, os rostos, os gestos e os adornos narram uma estética da resistência, onde tradição é invenção cotidiana e a cultura pulsa como corpo coletivo.

Vem a vida pelo mistério e ginga. É um guardião da festa.

Dança, brinca, batiza e morre. Depois, renasce.
Porque ele não representa a vida — ele é a vida em movimento.

Quem guarda a brincadeira não dorme.
Em vez disso, dá o ritmo da dança e do giro. É assim no São João.

Na mão do vaqueiro, o grito da onça. Com o pandeirão, ele risca o chão
e faz a dança acontecer.

ele chama a encantaria — e ela vem.

Não é homem, nem mulher.
É mistério que encanta e dança.

Balança, balança
Minha tribo de índio maneiro vem aí.
Minha tribo de índio guerreiro que faz o terreiro tremer.