BOMBAS BR é um projeto de mapeamento, ação performativa e produção imagética realizado desde 2021 em diferentes cidades brasileiras, que investiga locais de repressão durante a ditadura civil-militar (1964–1985), bem como pontos de resistência. O trabalho se estrutura em torno de fotoperformances realizadas por atores não nascidos no período ditatorial, vestindo réplicas de fardamentos da Polícia Militar dos anos 1960/70, junto a acessórios originais como capacetes, máscaras e cassetetes.
As imagens funcionam como registros que evidenciam os vestígios materiais e simbólicos do autoritarismo. A seleção atual contempla cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belém e Belo Horizonte, abrangendo três das cinco regiões brasileiras (Norte, Centro-Oeste e Sudeste). Porto Alegre (Sul) e Fortaleza (Nordeste), em fase de desenvolvimento, integrarão o projeto, ampliando seu alcance geográfico e histórico também em relação aos estados natais dos presidentes do regime militar e reafirmando o caráter estrutural da repressão em todo o país.
Em meio à crescente visibilidade da extrema-direita e à marca de 40 anos do fim formal da ditadura, BOMBAS BR propõe uma reflexão em nossa história recente, criando fricções entre passado e presente, violência e território. Ao reinscrever figuras uniformizadas em locais de repressão oficial, hoje muitas vezes apagados, banalizados ou ressignificados —, o ensaio constrói imagens que deslocam o tempo e convocam o olhar.

Teatro Maria Della Costa, São Paulo
Fundado e dirigido por outra atriz e mulher, foi um dos espaços de vanguarda artística mais importantes da cidade. Durante os anos de chumbo, sofreu perseguições e censura, tornando- se símbolo da resistência cultural em tempos de repressão.

Universidade de Brasília (UnB), Brasília
Fundada com um projeto pedagógico inovador, a UnB foi alvo de ataques logo após o golpe de 1964. Professores foram perseguidos, estudantes presos e o campus sofreu intervenções militares. A obra BOMBA BSB (NASC.1988)#1 inscreve esse passado com o corpo de um performer nascido em 1988, ano da promulgação da nova Constituição do país.

Antigo Palácio do Governo do Pará, Belém
O governo do Pará tentou resistir à intervenção militar, mas acabou sucumbindo à repressão. Na foto, o palácio passa por restauração, mas esse revestimento branco remete a um apagamento, paredes e objetos ocultos, como marcas de uma memória silenciada. O ano de 1987, marcado pela Assembleia Nacional Constituinte e por intensos movimentos sociais, simboliza a busca por reconstrução democrática, uma tensão presente tanto no espaço histórico do palácio quanto no corpo do performer nascido nesse ano.

Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
Foi palco de intensos embates políticos durante e após o regime militar, simbolizando tanto o poder estabelecido quanto os esforços de resistência democrática. Diante deste prédio, ocorreram importantes movimentos em defesa das Diretas Já, que marcaram a luta pelo retorno das eleições presidenciais diretas no Brasil.

Riocentro, Rio de Janeiro
No Dia do Trabalho de 1981, o Riocentro foi palco da tentativa de atentado fracassado, símbolo da repressão estatal durante a ditadura civil-militar. A obra BOMBA RIORJ (NASC.1989)#1, com o corpo de um performer nascido em 1989, ano da primeira eleição presidencial direta após 29 anos de regime militar, revisita esse passado.

Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte
A Faculdade de Direito da UFMG sempre foi palco de debates e mobilizações pela democracia. Apesar da repressão policial durante o regime, o diretor da faculdade resistiu e não entregou os estudantes perseguidos. A obra BOMBA BH (NASC.1994) inscreve o corpo de um performer nascido em 1994, ano de nova eleição presidencial.

Edifício Maletta, Belo Horizonte
A foto foi feita em um sebo do Maletta, espaço que remete às antigas livrarias e editoras que existiram no mesmo prédio. Durante o regime militar, livros desses estabelecimentos foram apreendidos e incinerados pelo DOPS, evidenciando a repressão à cultura e ao pensamento crítico.