Horto Comunitário Vale Fora – Comissão de Meio Ambiente do Vale do Capão, em Caeté Açu, distrito de Palmeiras, Bahia – uma Organização Não Governamental que atua na comunidade desde 1994, produzindo mudas, insumos naturais, atuando com educação ambiental e reflorestamento no distrito de Caeté Açu e região.
Em 2022, com o Projeto Águas do Sincorá, a equipe do Horto e voluntários puseram-se diante de uma guerra planetária: produzir bombas de sementes com biochar e IMO4, uma metodologia eficaz em restauração ecológica com enfoque na recuperação do solo. As bombas foram lançadas dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
A primeira missão aconteceu em 31/10/22, no Gerais do Vieira, situado entre o vale do Capão e o vale do Pati. Ele é formado por um extenso altiplano (altitudes superiores a 1.000m), recoberto por gramíneas e serpenteado por córregos de águas cristalinas acompanhados por matas ciliares exuberantes.
A produção da bomba de sementes começa pela coleta de sementes de plantas nativas feitas por comunidades tradicionais, sobretudo quilombolas, indígenas e ribeirinhas. A confecção das bombas é feita com participação de escolas, institutos e o público em geral.
A equipe do horto conta com conhecimento técnico de biólogas, geólogas, engenheiras agrônomas, além da sabedoria ancestral de pessoas da própria comunidade, como Seu Santinho, Mestre griô, fundador do Horto.
Em terra devastada por garimpo, monoculturas e incêndios florestais, o exército de homens e mulheres voluntárias se aprumam e sobem a trilha desde o bairro rural Bomba até o Gerais do Vieira, onde a tropa, guiada pelo Seu Jair e o burro “Escurinho” chegam para a dispersão das bombas. O animal carrega as bombas nas broacas – caixas feitas artesanalmente em couro curtido. Uma forma tradicional de carregar mantimentos pelos povoados.
Cada bomba é composta por uma “muvuca”, junção de sementes de árvores nativas, IMO4 (microorganismos eficientes) e biochar, envolvidos em argila. As bombas são feitas uma por uma, com as mãos modelando as bolas.
Além de melhorar a qualidade do solo, os insumos são responsáveis por armazenar o carbono no solo, reter água e nutrientes, aumentar a velocidade do tempo de germinação das sementes e tem baixo custo de transporte e aplicação devido ao tamanho, que pode ser comparado a um ovo de galinha.
Outrora tropas e animais de carga extraiam as riquezas naturais do solo baiano. Hoje, atravessamos rios e vales para devolver dignidade à Terra, lançando sementes de árvores que serão, no futuro, as guardiãs do lugar.
Nas áreas definidas para o lançamento de bombas, germinam sementes de aroeira preta, braúna, goiaba vermelha, mutamba, licuri, pinha do brejo, araticum, ipê roxo, cedro rosa, jenipapo, peroba, copaíba, entre outras.
Esperamos poder conjugar o verbo “arvorecer” na gramática do futuro, que seja breve.