Bruma foi produzido no centro do Recife durante o inverno, período em que a presença da chuva altera a percepção do espaço urbano. O ensaio nasce dessas caminhadas, em que a cidade parece perder sua forma habitual e as figuras aparecem como sombras em trânsito.
Em vez de seguir uma linha documental, Bruma propõe um olhar mais frio e contido sobre o centro. Uma área que, apesar de associada a uma imagem quente e movimentada da cidade, também enfrenta abandono: ruas esvaziadas, pouca circulação e uma sensação de perda de vitalidade urbana. Esse abandono silencioso atravessa a estética do trabalho. As figuras surgem fragmentadas, quase dissolvidas, como se o próprio centro estivesse se desfazendo junto delas. A falta de nitidez não é apenas um efeito visual, mas um modo de sugerir instabilidade — momentos em que o que é sólido parece suspenso.
O ensaio foi feito em filme 35mm e revelado em laboratório próprio. A opção pela sobrevelação dos negativos foi essencial para criar essa atmosfera: a redução de densidade acentua o grão, endurece as texturas e aprofunda as sombras, aproximando algumas imagens de um desenho em carvão. Essa escolha técnica faz parte da narrativa e ajuda a materializar a bruma que envolve as cenas, reforçando a tensão entre o real e o fantasmagórico.








