Em Riachão do Jacuípe, tímida cidade na transição do agreste para o sertão baiano, a caixa d’água que nomeava o bairro onde se localizava adquiriu ironicamente o status de ponto turístico, numa cidade sem turismo. Brincávamos: se Roma ostentava a Coliseu e o Rio de Janeiro, o Cristo Redentor, nós tínhamos a caixa d’água, monumento sem nome próprio, mas muita identidade. Era uma referência urbana. Para alguns, fonte de lazer. Já fora uma clandestina piscina pública improvisada e ponto de rapel. Para os mais íntimos, como eu que a via da porta de casa, até um certo motivo de orgulho.
Há alguns anos, em face da modernização, diz-se, do sistema de abastecimento, viu-se inutilizada, tornou-se vazia, seca. Virou apenas uma estrutura de concreto que se foi deteriorando. Sem sua função de fornecimento, tornou-se perigosa pela falta de conservação, alegaram antes da sua derrubada. Embora seja factível, afinal nem o concreto resiste ao tempo quando não preservado, a verdade é que não sabemos ao certo. Independentemente da realidade, o problema é que numa terra seca, que nem a caixa d’água, a demolição é simbólica. Interrompeu nossos chistes, esvaziou nossas memórias e a história virou poeira.