As oito fotografias que compõem o ensaio “Estamos aqui” foram realizadas no terreiro de Umbanda COCAR – Casa de oração caminhos de Aruanda, situada no município de Jacareí/SP, sendo selecionadas de uma série maior de fotografia documental, da qual dois livros estão sendo produzidos.
O movimento é parte essencial na liturgia Umbandista. O transe da incorporação é induzido pelo toque de pontos religiosos no atabaque (Instrumento de origem africana), que através de um longo desenvolvimento mediúnico, permitem ao médium manifestar a energia de guias espirituais, que são espíritos dos mortos que se encontram em estado de evolução no “astral”, ou o mundo pós vida. Fotografar o sagrado envolve respeito e muito estudo sobre as singularidades de cada entidade manifestada. Nesse sentido este ensaio busca, por meio de uma cartografia do acaso, ilustrar o transe, o mistério e a incorporação de entidades no mundo terreno.
As fotografias foram pensadas objetivando a fluidez, o transe e o movimento em forma de dança, elementos que culminam no momento da incorporação no terreiro de Umbanda. O ensaio ilustra uma “gira”, termo originário do quimbundo (Jira) e que significa “caminho”, que para o Umbandista representa o caminho para o divino.
O ensaio propõe uma reflexão sobre como nosso povo se relaciona com o divino e o profano, entendendo que o sagrado pode ser visto e sentido no acender de uma vela, no gesto e no corpo. A prática religiosa espiritualista, apesar de carregar o preconceito de uma sociedade pautada em religiões judaico-cristãs, encontra na prática do terreiro e da fé seu direito de dizer: Estamos aqui.