Antes mesmo que meus olhos enxergassem as barracas da feira, meu nariz já estava em êxtase.
Era um cheiro denso, quase palpável, que me abraçava e me puxava para dentro de um universo onde o tempo parecia curvar-se à sabedoria ancestral. Não era um cheiro simples, mas uma orquestra de aromas: o terroso das raízes secas, o pungente das folhas esmagadas, o adocicado das flores que ainda guardavam um pedaço de sol. Cada respiração era uma viagem, um mergulho em histórias de cura, de benzimentos, de segredos sussurrados de geração em geração.
E então, as imagens começaram a se revelar para mim, como pequenos poemas visuais. A luz brincava entre as lonas e telhados improvisados, desenhando sombras longas e dançantes. Eu me perdi naquelas vielas apertadas, sentindo o chão irregular sob meus pés, instigada a explorar cada detalhe. Havia sacos e mais sacos, cheios de promessas até a boca.