O trabalho fotográfico realizado no Mercado Público de Porto Alegre é motivado pela profunda interação entre os corpos em movimento e as diversas trajetórias de vida que convergem nesse espaço dinâmico. Utilizando a técnica de longa exposição com lente pinhole, as fotografias buscam capturar o fluxo contínuo dos corpos, oferecendo um retrato vivo da cidade. Este mercado, como epicentro de encontros entre diferentes classes sociais, religiões e identidades, reflete a riqueza de histórias e experiências presentes na sociedade local, destacando-se o Bará, mosaico de pedras e bronze, tombado como patrimônio histórico-cultura, localizado na encruzilhada dos quatro corredores centrais, no coração do Mercado Público.
O Bará é considerado, nas religiões de matriz africana, o orixá que detém o poder de desbravar novos caminhos. Sua presença ali é resultado de um ritual de assentamento, onde é fixado em um objeto específico, como uma pedra, pedaço de madeira, metal ou até mesmo um punhado de terra. Esse “ocutá”, enterrado sob o prédio com 151 anos de existência, carrega consigo uma carga simbólica e espiritual significativa, transcendendo barreiras religiosas como uma parte integrante de sua identidade do Mercado Público. Tanto o Mercado quanto o Bará são um retrato da diversidade do centro da Cidade de Porto Alegre.
O Mercado Público de Porto Alegre emerge como um microcosmo que encapsula a complexidade da cidade, refletindo sua sociedade multifacetada. Assim como as fotografias buscam capturar a energia pulsante dentro do mercado, elas também revelam a riqueza das histórias individuais e coletivas, onde cada pessoa é portadora de suas próprias experiências, alegrias, dores, amores e tragédias. A organicidade do corpo humano é representada visualmente por meio das imagens que retratam corpos em movimento constante, refletindo a ação e a vitalidade que permeiam esse espaço.
O trabalho não se limita a documentar o movimento físico, mas se propõe a capturar a diversidade humana, social e cultural que caracteriza esse local emblemático. As fotografias buscam ser mais do que um registros visuais, mas narrativas visuais que contam as histórias coletivas e individuais daqueles que frequentam e habitam esse espaço vital da cidade.