Certo dia, guiado pelo acaso dos caminhos, cheguei a Águas da Prata. Era apenas uma pausa na viagem, até que o inesperado me chamou: na praça central, brotava um espetáculo da vida. Fontes e jatos d’água emergiam do chão, desenhando no ar uma coreografia líquida e no meio dela, crianças.
Corpos miúdos saltavam, desapareciam atrás das cortinas d’água e reapareciam com risadas. Naquele instante, compreendi que a praça havia se transformado em muito mais que espaço urbano: era cenário, era palco, era matéria viva.
A luz filtrava-se entre as gotas do ar, criando pequenos prismas efêmeros, lembrei que na fotografia, sem luz, não há imagem. Assim também percebi: sem luz, não há infância. E ali ela estava, translúcida, vibrante, quase palpável.
Levantei a câmera. O enquadramento era livre como eles, sem linhas rígidas, sem molduras previsíveis. O movimento desafiava qualquer regra clássica de composição. Mas, curiosamente, tudo se alinhava de forma intuitiva, orgânica.
As sombras desenhavam silhuetas no piso molhado. A própria dinâmica entre luz e sombra parecia espelhar a dança entre a pausa e o movimento, entre o instante congelado e o fluxo contínuo daquelas vidas!
Ali, percebi que fotografar não era capturar, era libertar.
Era permitir que a leveza daqueles corpos, molhados e felizes, escapasse do efêmero e se tornasse memória visível. Tudo era fluidez, água, luz, riso e tempo.
E foi assim, através da lente, que me transportei. Viajei não só no espaço, mas para dentro da essência mais pura e refrescante da vida: a infância hidratada, luminosa e livre, que brilhava ali e que agora brilha também em cada imagem desse ensaio.