Já vivi muitas vidas e existo entre cicatrizes, alegrias e tristezas.
Transito entre o excesso de pensamentos que revira minha cabeça, a imaginação infantil que volta e meia regressa e o silêncio, o prazer do silêncio que me inunda por completo.
Me desfaço em partes que se misturam com vida e mortes diárias. E de tantas formas posso morrer incessantemente nessa existência: desde o júbilo do sexo, às agressões de traumas, ou pequenas violências que por vezes eu mesma disparo contra mim.
Assim alguns pedaços de quem fui foram ficando pra trás, e meu corpo vira do avesso colocando pra fora um resto de mim pra recomeçar… sempre.
*“la petite mort” – expressão francesa que significa a breve perda ou enfraquecimento da consciência relacionada especificamente à sensação de pós-orgasmo. Mais amplamente, pode referir-se à libertação espiritual que acompanha o orgasmo ou a um curto período de melancolia ou transcendência como resultado do gasto da “força vital”. O crítico literário Roland Barthes falou de la petite mort como o objetivo principal da leitura de literatura, o sentimento que se deve ter ao vivenciar qualquer grande literatura. Também pode ser usado quando alguma coisa indesejável aconteceu a uma pessoa e a afetou tanto que “uma parte dela morre por dentro”.