Em 30 de abril de 1977, durante a ditadura militar na Argentina, 14 mulheres se reuniram na Praça de Maio, em Buenos Aires, para protestar pelo desaparecimento de seus filhos, iniciando uma luta de 47 anos por verdade, memória e justiça.
Desafiando o estado de sítio que proibia reuniões, elas começaram a caminhar em duplas ao redor de um monumento, originando as emblemáticas Voltas da Praça com seus lenços brancos nas cabeças. Apesar da perseguição e do risco, persistiram em suas vigílias, sendo pejorativamente chamadas de Loucas da Praça de Maio pela ditadura. Três das mães fundadoras foram sequestradas, torturadas e atiradas ao mar vivas.
Surgiram as Avós da Praça de Maio, com o objetivo de localizar netos nascidos em centros de detenção clandestinos e entregues a famílias ligadas à repressão.
O trabalho das Mães foi essencial para identificar muitos desaparecidos e restabelecer a verdade sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar na Argentina.
No dia 18 de fevereiro de 2024, completaram-se 47 anos do sequestro e desaparecimento de Hugo Orlando Miedan, filho de Elia Espen, uma das Mães da Praça de Maio. Hugo, então com 27 anos, era estudante de arquitetura e ativista quando foi sequestrado por militares e levado ao centro clandestino conhecido como El Atlético, em Buenos Aires. Os agressores não só atacaram Hugo, mas também explodiram a casa da família Miedan, agredindo Elia e suas filhas, uma delas com apenas 11 anos, deixando Elia com perda auditiva devido às pancadas. Desde o desaparecimento de Hugo, Elia tem lutado incansavelmente por justiça, juntando-se às Mães da Praça de Maio na sua procura por ele e pelos outros 30.000 desaparecidos.
“Para Hugo, pelos 30 mil desaparecidos, 47 anos após o golpe genocida, não esquecemos, não perdoamos, não nos reconciliamos!” (Elia Espen)
“Marchamos na Praça de Maio. Ali nos reunimos com nossos filhos, ali nos sentimos vivas. Desde o primeiro momento nós, mães, sem sabermos, estávamos educando para a paz. Estávamos caminhando em uma Praça enfrentando a ditadura, fazendo um grande esforço para não ficarmos em uma cama chorando. Todas as manhãs, nos perguntávamos: o que vamos fazer? Todas as manhãs sem nossos filhos, todas as manhãs acordávamos e perdíamos a cada dia as esperanças de encontrá-los. Quando nos demos conta de que eles não voltariam, tomamos a decisão de não mais deixar a Praça. Tomamos a decisão de lutar até o último dia de nossas vidas e também entendemos que a luta individual não fazia sentido, que deveríamos assumir a responsabilidade de socializar a maternidade, fazendo de nós mães de todos” (Hebe de Bonafini).
“Porque ainda, e apesar das bengalas e das cadeiras de roda, as loucas, como fomos chamadas, continuamos em pé” (Taty Almeida).