O que morre num incêndio? E o que, dele, renasce?
Desfocar:
modo de atravessar o ardor.
O fogo —
queima, alastra, derrete, faz evaporar tudo que havia.
Impõe a inexistência.
Cessa, de repente.
E a água, que o cala, com sua aparência de alívio,
também traz em si, destruição.
A fuligem —
é lava que engole.
Escorre. Mancha.
Esculpe. Transfigura.
Desenha novas formas sobre o que ficou.
Imprimindo vestígios perenes:
o relógio, os pequenos objetos,
os sapatos contornados pela sombra,
o paninho de crochê sobre a mesinha.
Tudo agora com outra pele.
Reconstrói-se das cinzas.
Recupera-se o velho parquet.
Sobre o retinto impregnado (agora subliminar),
pintam-se camadas e camadas de branco-algodão.