O Cariri é dentro. O Sertão de Rosa empresta o título ao Sertão de Suassuna. Sertão adentro, busquei o Cariri em que a imaginação mágica e criadora penetra o couro como espinho, impregna os homens como a poeira alaranjada tinge a paisagem seca, entalha as almas como sol, lua e vento esculpem as pedras dos lajedos.
O espírito criador da gente do Cariri faz da arte e da inquebrável fé uma dimensão tão concreta de sua existência quanto o sol, a poeira, o espinho. Como disse João Cabral de Melo Neto, entre os santos, mártires, profetas e guerreiros da prosa régia de Suassuna, há um “espaço fantástico que o deserto funda”. A dureza dos dias vividos sob um sol feroz tece em fio de ouro o espírito corajoso, insurreto, delirante e inventivo da gente do Cariri.
O encantado cordel vivo que o povo ali inventa conta histórias do que existe e do que não existe como uma arte total (Ilumiara, como quis Suassuna). Essa força intangível, essa percepção mítica de sua dignidade faz o Cariri transbordar encantarias com a intensidade do que vive onde a vida nasce da pedra e esconde rios nos dedos espinhosos do mandacaru. Busquei na gente do sertão, dentro de suas casas, na força de seus olhares, o mito raro e misterioso que funda uma das mais originais manifestações da brasilidade.






