Submerso nas águas do Jalapão, o corpo abandona o peso, o tempo e até o som. Esta série é um mergulho literal e simbólico no silêncio que só a água é capaz de oferecer. Entre imagens em preto e branco e outras tingidas pelas cores minerais dos poços, exploro a leveza e a suspensão de um mundo onde o corpo paira, dança e desaparece. A alternância entre cor e P&B não é casual — ela traduz atmosferas, pulsações, instantes. Às vezes, é o olhar interior que fala; noutras, a luz revela o espaço encantado que existe entre o ar e o fundo. É o instante onde o tempo se dissolve — e o silêncio, enfim, respira.

Como em um sonho, o corpo gira, flutua, se entrega. A luz dourada parece emanar de dentro, como um sopro de calor no abismo.

O tempo cessa. Cada músculo flutua entre sombra e luz, como se estivesse em pausa entre um batimento e outro.

Metade do mundo está submersa. Mas o olhar navega inteiro, costurando raízes, pedras e cardumes no mesmo plano.

O corpo mergulha em direção ao escuro, guiado apenas pelos feixes que se abrem em silêncio. Uma oferenda à sombra.

Imerso entre rochas e reflexos, o corpo se torna parte da paisagem. Não há mais quem observa ou é observado.

Entre a floresta e o fundo, uma escada. Não leva ao alto, mas ao profundo — como se a travessia fosse para dentro.

De ponta-cabeça, o mundo vira metáfora. O corpo toca a superfície como quem desenha um pensamento no espelho da água.