Fotografar o processo de morte do meu pai foi, antes de tudo, um gesto de amor. Ele, que foi meu primeiro incentivador na fotografia, registrou meus primeiros anos de vida. Eu, fotografei os últimos dele.
As imagens que fiz não são apenas retratos de um corpo em declínio — são testemunhos de presença. Fragmentos de uma despedida silenciosa. Também são resistência diante da tentativa de suavizar o que a morte é: concreta, irreversível, real.
Há a morte que destrói o corpo — e há a outra, simbólica, que se instala nas ausências cotidianas. A cadeira vazia na cozinha. O café da manhã posto à mesa uma última vez. A receita que ninguém mais faz igual. Mas também há algo que insiste em viver, mesmo depois. O ato de fotografar foi, para mim, uma tentativa de preservar essa parte viva. De dar forma ao luto sem calá-lo. De entender que perder não é apagar — é transformar. Essas imagens são pedaços do tempo em que ainda havia tempo. São memória e oferenda. Meu modo de dizer: ele esteve aqui. E, de algum modo,




ainda está.