Um diálogo entre o divino e o humano, entre o que nos eleva e o que nos ancora.
Neste trabalho, os orixás descem do plano sagrado para caminhar entre nós, não como mitos distantes, mas como espelhos de ancestralidade e resistência. Através de retratos que unem cores da terra, texturas do céu e olhares que carregam histórias, buscamos tecer um novo imaginário: um onde a espiritualidade africana não é exótica, mas íntima; não é folclore, mas raiz.
Cada imagem é um convite para enxergar nos orixás a humanidade que sempre existiu neles — e em nós. Há a força de Ogum, a delicadeza de Oxum, a firmeza de Xangô, a liberdade de Iansã. São corpos que não apenas representam divindades, mas celebram a beleza negra, a diversidade de corpos e a potência de existir em um mundo que muitas vezes apaga identidades.
Aqui, o sagrado veste-se de pele, de tecido, de suor e de sonho. Não há hierarquia entre Òrun e Àíye: o céu é chão, a terra é altar. As fotografias rompem a ideia de que culturas de matriz africana são “crendice” ou “passado”, mostrando-as como narrativas vivas, urgentes, capazes de curar e transformar.
Este projeto é um abraço aos que carregam o peso do preconceito e um lembrete: a fé que nos conecta aos orixás é a mesma que nos lembra de nossa dignidade. Nos olhos de cada modelo, há um lampejo de orgulho; em suas mãos, a leveza e o peso de quem reconstrói narrativas.
Òrun Àíye não é apenas um ensaio sobre deuses, mas sobre pessoas. Sobre como o divino habita o cotidiano, como a resistência é um ato sagrado, e como a representação — quando feita com amor e reverência — pode ser semente de um mundo onde céu e terra se reconhecem no mesmo espelho.
Porque, no fim, somos todos poeira e mistério.
Terra que sonha ser céu. Céu que insiste em ser humano.





