Estive de perto fotografando rituais de quase 200 anos que acontecem em várias localidades de Juazeiro na Bahia – os Penitentes. Todos os anos no período da semana santa até a sexta-feira da paixão, eles se reúnem à noite se vestem com mortalhas brancas, caminham pelas ruas em fila até o cemitério, onde o ato é vetado para a população, lá rezam e iluminam com velas os cruzeiros, lembrando as estações da Via Sacra. Além dos nossos passos acompanhando as procissões, o silêncio só era quebrado pelos cânticos melancólicos e pelas ruidosas matracas. São dois grupos: os Alimentadores de Almas, que fazem orações pelas almas dos mortos, e os Disciplinadores que se autoflagelam com chicotes, encharcando de sangue as mortalhas para reduzir suas penas e as dos mortos, o acesso só é permitido aos homens e a tradição passa de geração a geração. Esses rituais vieram da Idade Média, trazidos pelos Franciscanos ao Brasil.
Naquele clima de comoção e respeito, observei atenta todos os passos, rituais e cânticos tentando absorver e passar para as imagens o máximo possível daqueles espetáculos taciturnos mas revestidos de muita beleza, fé e luz.