“Presença” é fruto de uma reflexão sobre a relação do sujeito que fotografa, sua visão de mundo e a forma como ele retrata e revela os sujeitos fotografados. Esta questão mantém-se atual e relevante para todo aquele que cria ou aprecia uma imagem, seja ela uma fotografia, uma pintura, uma colagem ou um desenho criado por meio da Inteligência Artificial Generativa. No entanto, a profusão de imagens a que somos expostos nos dá pouco tempo para observar o recorte da realidade, física ou imaginada, escolhido por aqueles que a criam.
Com o posicionamento do fotógrafo em mente e fazendo um paralelo com o posicionamento de um pesquisador científico, elaborei o portfólio “Presença”. Nele, registro minha interação com meus netos sem, no entanto, revelar nossos rostos. As fotos foram tiradas sob a perspectiva de 1ª pessoa para, mostrando partes do meu corpo, explicitar minha dupla presença de avó e fotógrafa.
Enquanto avó, o conceito de “presença” se traduz na minha participação com netos em brincadeiras e passeios onde, juntos, experimentamos afetos, cuidados, brinquedos, cores, o chão e um certo caos. Mais particularmente, a presença física que temos de avó e netos é rara e preciosa para nós, pois moramos em países distintos e muito afastados.
Enquanto fotógrafa, incluí parte de meu corpo na fotografia buscando registrar e explicitar que, por trás da imagem apreciada, há a “presença” do sujeito-fotógrafo. Este normalmente fica invisível e até esquecido do outro lado da câmera, ainda que suas vivências, perspectivas e intenções pessoais, bem como sua interação prévia com os sujeitos e ambiente fotografado, sejam fundamentais para, por exemplo, retratá-los de forma mais distante ou mais intimista.
A proposta de explicitar o corpo do fotógrafo junto aos sujeitos que ele fotografa foi inspirada na abordagem metodológica de pesquisa científica denominada “Pesquisa-ação”. Neste tipo de pesquisa, o pesquisador não é um observador neutro, “mosca-na-parede”. Ao contrário, ele reconhece seu posicionamento não-neutro e de insider, pois, junto com os sujeitos da pesquisa, ele precisa fazer intervenções no ambiente estudado para solucionar um problema que lá ocorre.
Não mostrar o rosto dos netos foi uma decisão que dialoga com a impossibilidade de mostrar o rosto da fotógrafa na visão de 1ª pessoa, ao mesmo tempo que preserva a privacidade deles.
As fotos foram intencionalmente tiradas de forma espontânea, buscando mostrar o ambiente real cotidiano, e ocorriam também espontaneamente, quando as atividades do cotidiano permitiam.
Finalmente, esperamos que você, observador, tenha se sentido acolhido em nossa intimidade e venha a compor, assim, mais uma “presença” em nosso portfólio. Vamos brincar?
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