Scala Humilitatis nasce de uma inquietação em relação à contemporaneidade — da sensação persistente de falta, da percepção de que a vida, quando reduzida à matéria e à urgência cotidiana, parece insuficiente para sustentar um sentido duradouro. Durante um período de convivência silenciosa no Mosteiro da Santa Cruz, na Serra Fluminense, acompanhei a rotina de homens que renunciaram ao mundo secular para habitar um deserto interior. Cozinhar, estudar, servir, cantar, orar. Gestos simples, repetidos, quase invisíveis. Ainda assim, cada ação parece carregar uma densidade própria, como se o cotidiano, vivido com atenção extrema, se tornasse um exercício de transcendência.
Entre a claridade que entra pelas janelas e as sombras que repousam nos corredores, a vida monástica revela uma trama invisível aos olhos apressados — uma tensão constante entre presença e ausência, luz e treva, renúncia e entrega. As imagens se constroem nesse intervalo, onde o visível sugere algo que não se deixa apreender por completo. Scala Humilitatis é, assim, menos um registro sobre monges e mais um ensaio documental-poético sobre aquilo que sustenta qualquer ato humano quando realizado diante do Mistério — seja ele chamado Deus ou simplesmente a procura por sentido.








