Esta série fotográfica percorre os caminhos silenciosos da fé popular, guiada pelo simbolismo do Círio — manifestação que une o sagrado e o coletivo em um só gesto. Aqui, o foco não está no clamor da multidão, mas nas pausas que habitam o rito: os olhos que se voltam ao céu, as mãos que erguem flores, os pés que sustentam barcos como promessas.
Em um Brasil onde a espiritualidade brota da terra, da água e da memória, cada imagem desta série revela uma devoção que não precisa de palavras. É no silêncio dos preparativos, na contenção dos rostos, na leveza do gesto que a fé floresce. E é justamente aí — na borda entre o íntimo e o público — que mora a potência desse olhar documental.
As fotografias buscam captar não só os símbolos do Círio, mas a vibração afetiva que os anima: o altar que se constrói flor por flor, a criança que veste o sagrado, a senhora que oferece uma rosa à imagem como quem devolve a própria vida.
“Silêncios e Devoções do Círio Popular” propõe uma escuta visual do que muitas vezes passa despercebido: a fé como força discreta, mas profunda, que se manifesta no corpo da comunidade e no espaço que ela transforma com suas crenças.

Com olhos serenos e asas imaginárias, ela desfila a inocência que veste o sagrado. Um corpo pequeno atravessado pela luz da fé.

No meio da festa, a fé ergue-se intacta. Entre confetes e multidão, um instante suspenso onde o profano celebra o divino.

Coberta de cores e olhos devotos, a imagem flutua como promessa viva. Um corpo sagrado que caminha amparado pelo povo.

Ela carrega mais que um barco: conduz a herança das mulheres que sustentam o invisível com passos firmes e gestos contidos.

O cortejo avança com barcos enfeitados por esperanças. Cada flor amarrada, um pedido; cada nó, uma gratidão que navega junto.

Sem som, mas cheia de voz. Ela reza com o corpo, com o olhar, com a alma — um instante onde o sagrado se acende no íntimo.

Com a delicadeza de quem acredita, ela estende uma rosa como quem devolve à santa tudo o que a fé já lhe deu.