A expressão “sim sinhô” é aqui adaptada por um costume de saudação das pessoas da Comunidade Quilombola do Ausente, no município do Serro, Vale do Jequitinhonha/MG. De acordo com Tina (Laurentina) “sim sinhô é quando você já viu a pessoa mais cedo naquele mesmo dia. É no retorno que você fala”. Por um trabalho de retorno no Ausente, a partir de uma fotoetnografia que buscou ressignificar o reconhecimento social “vale da miséria” a partir de um texto visual, Sim Sinhô é um recorte de uma série de hábitos da comunidade.
Sem romantizar os desafios de convivência com o semiárido, mas valorizando um modo de vida comum do Vale do Jequitinhonha: acolhedor, modesto, harmonioso com os meios naturais e que convive com o impacto de anos da manutenção de uma desigualdade estrutural, reforçada pelo reconhecimento “vale da miséria”. Sim Sinhô é uma possibilidade de representação da complexidade do Vale do Jequitinhonha. Nem a desigualdade financeira representa o todo, nem o convívio harmônico com a natureza representa o todo.
O recorte aqui apresentado faz parte de uma pesquisa de mestrado e foi desenvolvido no ano de 2022, após as etapas iniciais de vacinação contra o coronavírus. É um território marcado por corpos que resistem, desde a diáspora africana e ao longo dos últimos anos às negligências e vontades políticas, que mantêm um racismo estrutural sobre o Vale do Jequitinhonha. Sim Sinhô é uma ressignificação proposta por um homem branco, acolhido em suas pesquisas documentais a mais de 10 anos por pessoas deste território quilombola, expressando alteridades respaldadas pela devolutiva das pessoas da comunidade.