Quando capturei esta imagem, quis destacar a uniformidade, a massa de capacetes brancos e coletes reflexivos que se estende para o fundo, quase se fundindo com a escuridão. Não é sobre quem são esses indivíduos, mas sobre o que eles representam: a força de trabalho padronizada, a massa anônima que sustenta o sistema. A ausência de rostos definidos, de traços que nos permitam identificar cada um, foi uma escolha deliberada. Eu queria que eles se tornassem, visualmente, os “tijolos” de uma estrutura maior, perdendo sua individualidade no processo, transformados em engrenagens descartáveis na lógica da produção.
Para mim, essa cena ecoa profundamente a mensagem da canção do Pink Floyd. Assim como a música fala sobre um sistema que molda e oprime, essa imagem tenta traduzir visualmente a alienação do trabalho no capitalismo, onde o indivíduo é despersonalizado. Aqueles “tijolos no muro” não são apenas obstáculos físicos; são as experiências desumanizantes do labor, as imposições do mercado e as barreiras de classe que contribuem para o isolamento do indivíduo. É a individualização que o neoliberalismo nos impõe, forçando cada um a ser o único responsável por seu sucesso ou fracasso, diluindo a solidariedade e a consciência de classe.
Cada pessoa nesta foto, apesar de estar cercada por outras, parece estar em seu próprio universo, fundida na massa, mas, ao mesmo tempo, talvez, isolada por essa própria uniformidade e pela competição velada. É uma reflexão sobre a conformidade imposta pelo capital, sobre a perda da singularidade em nome da produtividade, e sobre as paredes, visíveis e invisíveis, que construímos ao nosso redor – e que o próprio sistema ergue – para manter as estruturas de poder.
Espero que esta obra os convide a olhar para além do óbvio, a refletir sobre o papel do indivíduo na coletividade, sobre a luta de classes e sobre os ‘tijolos’ – as condições materiais e ideológicas – que nos cercam, nos formam e, por vezes, nos aprisionam na roda-viva do capital.