O retrato é um gênero baseado nas relações humanas e tem como principal característica a interação do fotógrafo com as pessoas que fotografa. Essa constatação parece óbvia, mas não é tão simples de realizar na prática. Para desenvolver essa habilidade, segundo a maioria dos especialistas no segmento, é preciso buscar experiências em áreas variadas: como o teatro, a dramaturgia, a cenografia, a maquiagem, o cinema, a moda. Não por acaso, Nana Moraes, Priscila Prade, Karime Xavier, Fernanda Calfat e Walda Marques beberam em outras fontes e hoje figuram entre as grandes retratistas brasileiras.
Elas têm proveniências e trajetórias bastante variadas, mas todas compartilham de uma mesma opinião em dois pontos. Em primeiro lugar, acreditam que não existe algo que se possa chamar de “olhar feminino” no retrato. Embora historicamente o retrato tenha sido um gênero dominado pelo ponto de vista masculino, o que conta é a subjetividade de cada indivíduo, que passa por fatores de gênero, mas não apenas, também depende da vivência de cada um, de suas experiências e referências.
As cinco fotógrafas também são unânimes em apontar como ponto fundamental para o sucesso de um retrato a interação com o retratado: apertar a mão, olhar no olho, conversar, captar sua personalidade e depois saber conduzi-lo com segurança, por meio de direção. É uma relação de confiança e de empatia que se constrói e se expressa com clareza no resultado final – veja abaixo um pouco do trabalho de cada uma, confira dicas e saiba como as cinco especialistas trabalham.
Dez lições para fotografar pessoas
Além das cinco grandes fotógrafas entrevistadas para esta edição, Fotografe fez várias matérias sobre o tema ao longo dos anos. Pesquisamos e selecionamos aqui as dez lições básicas para quem está começando na arte de ser retratista. Confira.
1. Foco nos olhos
Conseguir um bom foco no rosto é a base do retrato, mas principalmente nos olhos. Se os olhos saírem desfocados ou sem muita nitidez, o retrato se torna descartável. Portanto, o fotógrafo deve dar muita atenção a esse detalhe fundamental e conferir no monitor da câmera se a nitidez
dos olhos está perfeita.
2. Ponto do autofoco
Diafragmas mais amplos exigem mais atenção ao foco justamente por causa da diminuição da profundidade de campo: o nariz pode estar focado e os olhos, não. Para não errar, o ideal é ajustar o ponto AF no centro do visor, apertar o disparador até a metade para focar os olhos e depois recompor a cena antes de apertar completamente o botão de disparo.
3. Desfoque no fundo
Em retratos ao ar livre, com luz natural, diafragmas mais abertos, como f/1.4, f/1.8, f/2.8 ou f/4, diminuem a profundidade de campo e desfocam o fundo. Isso valoriza o retrato e destaca o personagem. Trabalhar com a câmera no modo de prioridade de abertura (Av/A) ajuda.
4. Escolha do fundo
Em locação externa (na rua, num parque ou no local de trabalho ou na casa da pessoa), a escolha do fundo merece atenção rigorosa. Diante de fundos poluídos, as alternativas são fazer um close e não mostrar o que está atrás do retratado ou procurar um lugar de tom neutro, como uma parede, um muro ou uma porta. Porém, há fundos ou cenários que podem conter muita informação visual sobre o retratado e isso deve ser aproveitado.
5. Corte horizontal
O corte vertical é o mais correto e clássico para retrato. Contudo, isso não quer dizer que o horizontal não possa ser usado para incluir algo que tenha a ver com a personalidade do retratado ou para deixar espaço para aplicação de texto, quando planejado. No caso de uso do corte horizontal, o ideal é não posicionar o retratado no centro do quadro, mas sim no terço direito, no sentido ocidental de leitura, ou esquerdo, no sentido oriental.
6. Luz de rebatedor
Uma solução simples e barata para dar um tom mais profissional aos retratos é ter sempre à mão um rebatedor de luz, que pode ser usado em ambientes externos (para preencher sombras no rosto) ou internos (para refletir a luz de uma janela e clarear a cena). Existem rebatedores redondos, dobráveis, fáceis de levar, com faces branca, prata e dourada. Até uma simples placa de isopor pode ser usada para essa finalidade.
7. Iluminação de janela
Explorar a luz que entra por uma janela pode gerar uma iluminação sofisticada para retrato em ambientes internos. O ideal é deixar um lado do rosto um pouco mais iluminado do que o outro (sem sombra, claro). O fotógrafo deve avaliar o melhor ângulo da pessoa e posicioná-la de forma correta para aproveitar a luz “filtrada” pela janela.
8. Fechar o quadro
Quando a condição de luz não permite usar um diafragma bem aberto para desfocar o fundo, a solução é ajustar a mais ampla abertura possível e fechar bem o quadro ao fotografar, ocupando todo o visor com o rosto do retratado. Porém, não deve ser feito bem de frente, como um retrato 3 x 4 de documento. O enquadramento deve pender levemente para um dos lados do rosto. Um jeito fácil é enquadrar a pessoa de frente e depois dar meio passo para a esquerda ou para a direita, dependendo de qual for o melhor ângulo do modelo.
9. No nível certo
A regra de fotografar ao nível dos olhos, que é fundamental em retratos de crianças, também serve para adultos. Se a pessoa for muito alta, vale até subir em um banquinho para ficar ao nível dos olhos dela. Caso contrário, com uma tomada de baixo para cima (contra-mergulho), o retrato pode realçar demais o queixo e as narinas. E, se a pessoa for muito baixa, também é precioso se abaixar para não registrá–la em um ângulo de cima para baixo (mergulho), que realça a testa e o nariz.
10. Armadilhas da luz natural
Dias muito ensolarados podem parecer convidativos, mas acabam sendo problemáticos para retratos por causa das sombras fortes, que podem ser amenizadas com um flash de preenchimento ou um rebatedor. A melhor alternativa é fazer a foto no início da manhã ou no final da tarde, quando a incidência de luz é lateral. Dias nublados geram uma luz interessante, pois as nuvens agem como um difusor natural.
Nana Moraes
Na relação com o retratado parece residir o ponto mais importante para a fotografia de Nana Moraes. O segredo, segundo ela, é colocar-se no lugar do outro e tentar compreender a personalidade do retratado. “Minha concepção de direção vem da crença de que o bom retrato é aquele que expressa o outro. Meu processo de trabalho é sempre vertical. Costumo estudar, pesquisar ou me atualizar sempre com a preocupação de propor caminhos para revelar a personalidade de quem será fotografado. A ‘direção’ começa nesse momento”, ensina.
Nana considera fundamental a formação cultural do fotógrafo, que deve se atentar não apenas a referências visuais, mas também a outros campos. “Acho fundamental para a construção de um olhar referências que venham de literatura, cinema, teatro, música, artes plásticas e da fotografia humanista”, ensina.
Outro item fundamental, no caso dos trabalhos comerciais, é uma boa equipe. Nessas ocasiões, Nana atua sempre com assistente, maquiador e diretor de arte. O trabalho de pós-produção, no entanto, ela prefere não delegar, quando possível.
Equipamento e Luz
Com extensa prática no retrato, Nana investiu em equipamentos de ponta. Para trabalhos comerciais usa um back digital de médio formato da marca Phase One, e, para trabalhos autorais, uma DSLR Canon e uma Leica M7, analógica. A marca do seu trabalho é a diversidade. Ela utiliza objetivas zoom e fixa, dependendo da situação imposta, e não tem preferência por determinada distância focal.
Com as opções de luz ocorre o mesmo. Não há uma preferência por luz natural ou artificial, tudo depende do que se quer expressar. “Foto+grafia, escrevemos com luz. Então, assim como acontece com a escolha da lente, a luz depende da situação e do que quero dizer. Todos os acessórios são bem-vindos, fazem parte de nossa gramática”, comenta.
Com relação ao trabalho em estúdio ou locações reais, ela reafirma sua versatilidade. “Estúdio ou locação dependem da situação, da exigência do trabalho e do que eu quero dizer. As vantagens e desvantagens são inerentes ao trabalho. Acho ilusão quando dizem que em estúdio temos tudo mais controlado: ‘fotografia não é uma ciência exata’, já dizia meu pai, José Antônio, um grande fotógrafo”, diz.
Quem é ela
A carioca Nana Moraes é filha, irmã e mãe de fotógrafos e pode dizer que a fotografia sempre esteve na sua vida. “Meu pai, José Antônio, que tanto amo e admiro, foi um fotógrafo de corpo e alma, um profissional apaixonado. Sua paixão nos invadiu, a mim e a toda a família.” Atualmente, além de fotografar, Nana coordena o Retrato Espaço Cultural, no Rio de Janeiro (RJ), fundado na casa onde seu pai mantinha o estúdio – funciona como local de trabalho, galeria e espaço para cursos.
Ela atende aos mercados editorial, publicitário e cultural, cada qual com suas exigências. Também investe em projetos pessoais, como na série Andorinhas, em que retrata a vida e os anseios de prostitutas de beira de estrada. Na opinião dela, não existe um olhar feminino, mas uma multiplicidade.
Karime Xavier
A direção deve ser uma ação colaborativa, defende Karime Xavier. Após conhecer a pessoa, se apresentar e olhar nos olhos, ela pede a opinião sobre a abordagem que pretende dar, convida o retratado a pensar junto. No momento de fazer a foto, aí sim ela assume a dianteira e dá o norte, dirigindo o personagem no sentido que deseja.
Suas inspirações estão no universo da pintura, principalmente a surrealista, e da música. “A música para mim é muito mais inspiradora, é na música que eu me encontro, não é na fotografia. É engraçado falar isso, parece uma heresia, mas é a verdade. A música me transforma, a música me prepara até para uma foto, eu escuto música o tempo todo”, afirma.
As circunstâncias do trabalho no fotojornalismo não permitem contar com maquiador ou assistente. Quando está em campo, ela tem de resolver tudo sozinha. Por vezes, antes de sair para a pauta, discute com o editor de arte do jornal qual é a melhor abordagem. A pós-produção também é feita por ela. Essa fase tem peculiaridades no caso do fotojornalismo: as imagens não podem ter manipulações drásticas e a inclusão de legendas informativas é um elemento fundamental.
Equipamento e luz
Desde que ganhou a primeira Nikon, Karime se manteve fiel à marca. Ela trabalha atualmente com uma D500 e as objetivas zoom 16-80 mm f/2.8-4 e 70-300 mm f/4.5-5.6. “Mas realmente não ligo para equipamento. Para mim o importante é o tema, o olhar, a luz, o que você coloca ali dentro”, comenta.
Ela usa dois flashes compactos TTL profissionais da Nikon, SB-600 e SB-900, associados a acessórios de estúdio, como sombrinha para luz difusa e snut para luz pontual. Conta que no meio dos fotojornalistas há um certo “medo” do flash. “Acredito que você tem que entender de flash. Você precisa saber perceber e construir a luz”, explica.
Dada a natureza da profissão, ela sempre atua no local onde a pauta ocorre, geralmente na casa ou no ambiente de trabalho do retratado. Nessas condições, o imprevisto é uma constante e a capacidade de improviso é fundamental. “Como trabalho no jornal e já atuei em estúdio, gosto de fazer uma comparação. No estúdio é como se eu fosse uma médica operando uma pessoa em um hospital de ponta. Pelo jornal, fazendo um retrato, por exemplo, na Amazônia, é como se você fizesse parte dos médicos sem fronteiras e tivesse que operar no meio da mata com o que se tem em mãos.”
Quem é ela
Karime Xavier é paranaense e começou a fotografar aos 16 anos. Depois de ganhar uma Nikon F3 com uma lente 35-135 mm, montou um laboratório P&B na casa da avó. Essa paixão a fez abandonar a faculdade de Direito e passar à Publicidade. Em 1995, abriu o próprio estúdio em Curitiba, permanecendo até 2003 atendendo ao mercado publicitário.
Ao entrar na faculdade de Jornalismo, decidiu redirecionar a carreira. Mudou-se para São Paulo (SP) e apresentou seu portfólio no jornal Folha de S. Paulo. Depois de um primeiro trabalho, foi convidada a fazer parte da equipe do jornal. “Não me considero uma fotojornalista, mas uma retratista. Minha missão é fazer com que os retratos fiquem elegantes, visualmente interessantes e que contenham informações. Sou criteriosa com relação a isso”, diz.
Priscila Prade
A direção é uma etapa crucial para Priscila Prade, pois por meio dela a fotógrafa diz que chega aonde quer, ou seja, desenha a estética completa da imagem. “Não adianta só ter a luz, o cenário, o modelo, sem ter o conceito, sem ‘direcionar’ a execução ao resultado que quero atingir”, afirma. Suas principais referências vêm da dramaturgia. O contato íntimo com o mundo do teatro e do cinema trouxe elementos importantes à sua estética e um domínio da cenografia e da direção.
Priscila conta com assistente e para os trabalhos comerciais em publicidade ou cinema considera fundamental a participação de outros profissionais, principalmente de um diretor de arte. Conta que seu processo de atuação se concentra na pré-produção e no clique. Ela procura resolver a foto nessas etapas, não deixando nada para “corrigir” na pós-produção.
“A pós-produção é uma aliada da fotografia, mas não pode ser um corretor. Tem que servir para valorizar detalhes ou corrigir imperfeições antes eliminadas no pincel ou dar efeitos que eram feitos no laboratório fotográfico”, comenta.
Equipamento e luz
Desde a era analógica, Priscila usa equipamento Nikon. Acumula diversos corpos de câmera, dentre eles, os mais utilizados são o da D3X, D800 e D810. Câmera e lente são decididas de acordo com as situações de trabalho.
As sessões em estúdio oferecem maior controle e mobilidade, que lhe permite usar lente fixa e trabalhar com arquivos de grande tamanho, enquanto a cobertura de espetáculos de teatro pede objetiva zoom e arquivos menores para fazer um maior número de fotos. “Tenho uma predileção por diafragmas bem abertos, gosto de trabalhar com f/2.8, f/1.4, mas isso também vai depender muito do objetivo final da imagem”, avalia.
Ela não tem predileção por luz natural ou artificial. Gosta de misturar ambas e aponta para a importância de se praticar e experimentar nesse campo. “Conhecer as possibilidades de luz nos permite brincar com ela e criar diferentes propostas”, diz. Como também atua como produtora teatral (além de fotografar peças cuja cenografia e luz já estão prontas) ela curte criar os próprios cenários e histórias no estúdio. “O teatro e o retrato são dois universos que se cruzam e se misturam no meu trabalho”, comenta a fotógrafa.
Quem é ela
Priscila Prade nasceu em Florianópolis (SC) e fez da fotografia sua profissão quando foi morar em Paris, França, aos 18 anos de idade. “Nessa viagem confrontei com diferentes áreas da fotografia, o que me inspirou na criação de minha primeira exposição, Cinema das Almas”, conta.
Depois se estabeleceu em São Paulo (SP) e consolidou a carreira ao longo da última década, a partir do lançamento do livro Eu Queria Ser, em 2009 – projeto baseado na caracterização de artistas contemporâneos travestidos de personagens históricos. Em seguida vieram o livro coletivo Natureza e Transformação, de 2012, e a publicação de Impressões, em 2015, de retratos. Atualmente, faz trabalhos autorais e de registro de espetáculos de teatro, mas também atua nos mercados publicitário e editorial.
Fernanda Calfat
Para Fernanda Calfat, o trabalho de direção está intimamente ligado à necessidade de se mostrar profissional, checando todos os detalhes antes da sessão de fotos, pesquisando o que o cliente quer e a personalidade da pessoa retratada. “Por saberem que tenho esse perfil, meus clientes se sentem mais tranquilos e seguros. Nunca deixo de lado o bom humor e o sorriso no rosto”, diz.
Referências no campo do design, da arte e da arquitetura de interiores deram a ela domínio da composição, que faz com que resolva as imagens sempre no enquadramento da câmera, sem precisar de cortes posteriores. Outro aspecto fundamental na área é o trabalho em equipe. Fernanda diz que é essencial contar com o suporte de assistentes. “A minha equipe está há uns 12 anos comigo. Formei muitos fotógrafos e fico orgulhosa de
tê-los encaminhado na profissão”, conta.
Na pós-produção, o estilo é de pouca intervenção. Mas às vezes é preciso ir mais fundo na manipulação. “Não gosto de ‘bonecos’, então a pós-produção tem que ser suave. Porém, quando temos um job em que exige aspecto de ilustração, aí minha equipe está preparada para mudar tudo. E nada sai do estúdio sem minha aprovação”, comenta.
Equipamento e luz
A fotógrafa tem uma predileção pela Nikon. Atualmente usa duas câmeras da marca, D4 e D5. Na cobertura de moda nas passarelas, ela usa a objetiva 70-20 mm f/2.8 e para retratos em estúdio a 50 mm f/1.4. Para ensaios de moda em campo, tem predileção pela 24-120 mm f/4.
“Para retrato, gosto muito mais de luz natural. Mas quando é em estúdio tento ao máximo passar um conceito”, diz Fernanda, que trabalha com tochas de flash da marca Elinchrom, associadas a acessórios, como sombrinha e softbox.
“Rebatedor é importantíssimo para suavizar a luz refletida e, muitas vezes, dependendo da situação, faz o papel de luz de preenchimento. Em lugares onde têm sombras não desejadas, ele reflete a luz”, ensina ela, que gosta de trabalhar na rua, em locações reais.
Explica que se pudesse trabalharia apenas nessas condições, que confere mais dinamismo e realidade à fotografia, mas exige maior atenção aos aspectos logísticos. “A dinâmica tem que ser mais estudada e não dá para esquecer de nenhum item que poderá ser necessário”, afirma.
Quem é ela
Paulistana, Fernanda Calfat tem como foco principal a fotografia de moda. Foi absorvida por essa paixão na primeira vez que registrou um desfile. Ela começou fotografando as filhas e as amigas. De repente, um grande amigo, o designer alagoano Flavius Lessa Braga, a chamou para fotografar os desfiles da Morumbi Fashion e, dois anos depois, em 2000, ela já era profissional do mundo da moda.
Formada em Design pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e com pós em Fotografia pela Escola Panamericana de Artes, ambas em São Paulo, ela fez diversos workshops e trabalhos em Nova York até se mudar definitivamente para lá, em 2013. Além de fotografar para diversos clientes, é membro da agência Getty Images desde 2003.
Walda Marques
Captar o máximo de informações e referências da pessoa que vai ser retratada é a forma como Walda baseia a direção de fotografia. “Procuro deixar o cliente bem à vontade. Como faço tudo no estúdio, maquiagem e figurino, a relação fica mais próxima. Mas é fundamental e tento, de todas as maneiras, não me autofotografar nos retratados. Costumo mostrar que o corpo pode ser seguido pela emoção que a luz transmite naquele instante”, explica.
O trabalho dela tem raízes nas artes cênicas, na dança e até na dramaturgia: em sua produção autoral figuram seis fotonovelas, cuja trama foi inteiramente concebida em imagens, textos, figurinos e cenografia, quadro a quadro, por ela.
Walda atua de forma bastante participativa e costuma assumir todas as etapas do processo criativo. “Tenho um assistente, mas quem faz tudo sou eu, maquio, faço cabelos, cenário, bordo, vejo todo o figurino. Tudo que aprendi na vida, uso na minha fotografia.” O mesmo vale para o processo de pós-produção. “Cuido de tudo. Controlo todo o processo”, diz.
Equipamento e luz
Dada sua origem na maquiagem e no teatro, Walda Marques não dá importância ao equipamento. Começou usando câmeras Nikon, migrou para Sony e atualmente usa Canon. “Não me fissuro muito em equipamentos, tenho curtido muito o iPhone X, por exemplo. Tudo para mim é permitido, sou maquiadora de profissão e isso me dá direito de experimentar”, diz.
Seu estilo tende para o uso de luzes artificiais contrastadas. Ela combina com frequência as tochas de flash da marca Mako com gelatinas coloridas, que criam um ambiente artificial. “Comecei a trabalhar com luz totalmente dura, com ‘panelões’. Adoro a luz dramática, mas nunca gostei da rua. Meu trabalho é feito de cenas, acho que uma luz natural entrando e se misturando faz bem, mas amo criar uma luz, adoro fazer meu cenário”, afirma.
Walda se sente à vontade mesmo é no ambiente do estúdio, onde pode dar vazão às cenas que tem em mente. “O estúdio é mais íntimo, você é o senhor do tempo, controla o tempo e também tem suas surpresas. É uma caixa encantada de Pandora”, avalia a fotógrafa.
Quem é ela
Walda Marques é paraense de Belém, onde sempre morou. Chegou à fotografia por meio da maquiagem, paixão de infância. Ao fazer 18 anos, começou a trabalhar em salões de beleza e ingressou na TV Cultura do Pará em 1989, atuando como maquiadora, figurinista e compondo personagens e suas caracterizações.
Na mesma época, descobriu o teatro com o diretor paraense Paulo Santana e virou atriz. Foi maquiadora no estúdio do renomado fotógrafo Luiz Braga e se envolveu nos cursos e nas atividades da Associação FotoAtiva, passando a se interessar por fotografia. Em 1992, abriu o WO Fotografia, estúdio criado com o parceiro Octavio Cardoso, onde atende um público amplo e variado, como mulheres de todas as idades, além de empresários e políticos.