A galeria da Aliança Francesa Botafogo em parceria com a Embaixada da França e o Institut Français abrem ao público na quinta-feira, dia 14 de abril de 2022, a exposição “Insouciance: Juventudes Transatlânticas”, do fotógrafo francês Vincent Rosenblatt.
A mostra, que fica em cartaz até 18 de julho, apresenta cerca de 90 fotografias das séries produzidas por Rosenblatt entre 1997 a 2021, na França e no Brasil, onde reside há 20 anos. As fotografias retratam um pouco de sua trajetória profissional e seu olhar em direção a juventude dos dois países, através dos anos em que viveu experiências em diferentes territórios.
“Esta exposição é a oportunidade de ter um olhar introspectivo sobre o meu trabalho. É quase uma autoanálise em que descubro certas obsessões visuais que sustentam o meu olhar ao longo dos 25 últimos anos em territórios diferentes. Também mostra o quanto minha vinda para o Brasil influenciou o meu trabalho. Muitas coisas desenvolvidas no Brasil já estavam em gestação na França, mas só aqui floresceram. Esta mostra também enfatiza a presença da busca pelo afeto e por estados extáticos ou de transe profanos na minha fotografia”, afirma Vincent Rosenblatt.
Entre a França e o Brasil, Vincent Rosenblatt – residente há 20 anos no Rio de Janeiro. Em 1998 e depois em 2015, ele se beneficiou de duas residências de criação no CACP (Centre d’Art et de Création Photographique) da cidade de Niort, com 60.000 habitantes no oeste da França. A segunda foi uma encomenda da prefeitura da região e do Ministério da Cultura. O trabalho realizado com um intervalo de 17 anos é condensado sob o título: “Wesh – La Brèche”. Wesh – uma palavra do árabe argelino que se tornou uma gíria francesa – é uma espécie de “Olá, tudo bem?”. Já La Brèche é a encruzilhada e a praça central de Niort, onde jovens de origens multiculturais se encontram, saem, paqueram ou ficam entediados enquanto esperam o ônibus.
A exposição inclui outras séries e experimentos, com destaque para uma série de retratos de cariocas nas cachoeiras da mata urbana do Rio de Janeiro, produzidos entre 2000 e 2002, durante as primeiras estadias do fotógrafo no Rio. Um recorte do seu conhecido trabalho de longo prazo “Rio Baile Funk” (iniciado em 2005) completa a exposição. Esta série será lançada em livro, no dia 11 de maio, na Galeria da Aliança Francesa durante o período da exposição.
A busca por um estado de êxtase ou transe e afetos tece um elo entre as séries apresentadas na mostra Insouciance Juventudes Transatlânticas: seja provocada pelo som, pela música ou pela imersão dos corpos na água doce das cachoeiras cariocas, em comunhão com a natureza, ou ainda no corpo a corpo dos casais em bailes funk.
*Insouciance não tem uma tradução realmente satisfatória em português. “Leveza” – leviandade seria a palavra mais próxima, mas não é bem a tradução, que costuma ser feita com outras palavras, com uma conotação negativa que não existe na palavra francesa.
As fotografias de Rosenblatt tomam conta da Aliança Francesa de Botafogo. Além da galeria, o espectador poderá vislumbrar o incrível trabalho do artista pelo interior da Instituição.
A exposição – as séries: Wesh, la Brèche
Em 2015, a convite da Prefeitura de Niort, da região francesa Nouvelle Aquitaine e do Ministério da Cultura, Vincent Rosenblatt efetuou uma residência de criação no CACP Villa-Pérochon (Centre d’Art et de Création Photographique), com a missão de fotografar a juventude da cidade de Niort (60.000 habitantes) no centro oeste do país. Em seguida, expôs o trabalho sob o título de “Wesh – La Brèche”. Wesh – uma palavra do árabe argelino que se tornou uma gíria francesa – é uma espécie de “Olá, tudo bem?”. Já La Brèche é a encruzilhada e a praça central de Niort, onde jovens de origens multiculturais se encontram, saem, paqueram ou ficam entediados enquanto esperam o ônibus.
Rapidamente o fotógrafo disponibilizou as suas imagens no dia-a-dia para os seus modelos, que as publicaram comentadas e reeditadas nas redes sociais.
Com Alice, Alain, Alvin, Anaïs, Ambre, Antoine, Barbara, Bastien, Charline, Cloe, Creezy, Désiré, Eva, Fafa, Flavie, Goduine, Hayette, Henri, Jessica, Karl, Kenza, Kevin, Laureen, Margot, Mégane, Léa, Lionel, Loïc, Luca, Lionel, Mallé, Mamadou, Marcia, Margot, Marion, Michel, Naomie, Yacine, Yoann, Sorenza…
Dezessete anos antes da série “Wesh – La Brèche”, Vincent foi selecionado para os tradicionais Rencontres de la jeune photographie internationale (Encontros da jovem fotografia internacional) na mesma cidade, uma residência curta onde o tema é livre. Vagando numa noite na praça central da cidade, ele conhece Candy, sua irmã Christine e a amiga delas, Fatima.
Vincent inaugura ali algo novo para ele – uma forma de estar junto aos jovens, fotografando eles sem interferir ou dirigir nada, acompanhando elas no seu dia a dia, com seus crushes, brincando num centro educativo abandonado, ou ainda na residência delas, conhecendo a família. Essa série em preto e branco está dividida entre o espaço da galeria e a sala 4 da Aliança Francesa de Botafogo.
Este trabalho ficou na memória dos habitantes de Niort, tanto que chamaram novamente Vincent em 2015 para realizar, desta vez de forma oficial, uma missão fotográfica sobre a juventude da cidade.
No primeiro dia em Paris de Olga Kokorina, jovem da cidade de Irkutsk na Sibéria, Vincent tira a primeira foto contendo uma espécie de transe ou êxtase – desta vez ligado à música. Essa foto fez parte da exposição “Visages et Expressions, aspects contemporain”, na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris (ENSBA), em 1999. A ampliação do autor exposta nesta exposição é um vintage desta época, trazido com ele para o Brasil no início dos anos 2000.
Em 1997, ao observar o trabalho do diretor de teatro Vyacheslav Kokorin com jovens atores na cidade de Ulan-Ude, na república da Buriácia (região da Sibéria ao sul do lago Baikal e ao norte da Mongólia), Vincent entra em contato com a vasta tradição russa de formação teatral: o trabalho do ator, muitas vezes, é de fazer nascer a emoção no corpo antes de ser verbalizada. Essa vasta tradição e os métodos oriundos da literatura e do teatro russo antes da revolução de 1917 deu luz ao Actor’s Studio e à tradição Hollywoodiana, do outro lado do Atlântico.
Em 1999, visitando Nova Iorque junto com o seu grupo de ateliê da ENSBA (Escola Nacional de Belas Artes) de Paris, ele dirige uma amiga, Y.B. Filmando em Super 8, ele tenta fazer ela performar um estado de transe, convocando as suas lembranças do método teatral observado na Sibéria. Insatisfeito com a narrativa do curta-metragem, Vincent opta por voltar às imagens fixas, re-fotografando os fotogramas do filme com o seu último rolo de Polachrome, filme cuja produção tinha sido parada anos antes pelo fabricante. A película vencida é responsável pelos acidentes e riscos nas imagens, tornando os retratos ainda mais presentes.
Cachoeiras 2000-2002
Nas suas primeiras estadias no Rio de Janeiro, Vincent acompanha colegas, amigos ou ainda a família de alunos do seu então projeto Olhares do Morro nas cachoeiras do Horto e das Paineras. Ali, depara-se e documenta uma relação do corpo com a natureza, uma entrega peculiar.
Rio Baile Funk 2005-2021
Na exposição, Vincent Rosenblatt apresenta um recorte do seu trabalho de longo prazo no mundo funk carioca e nas festas pretas. Ao adentrar em 2005 o seu primeiro baile, o fotógrafo experimentou uma espécie de epifania. A entrega e as transes coreografadas da juventude funkeira lhe deram a certeza de ter encontrado um universo que ele iria ocupar “por muito tempo”. Neste recorte, Vincent apresenta entre outras imagens um políptico concentrando sarradas, beijos, desejos, transes e afetos. Ali se encontram todos os temas já presentes nos seus trabalhos anteriores.
Vincent Rosenblatt
Nasceu em 1972 em Paris, França. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Enquanto estudava História e Antropologia na Sorbonne, viaja diversas vezes para Polônia e até a Sibéria, desenvolvendo seu primeiro trabalho fotográfico. Começa a trabalhar como fotojornalista, porém ingressa na École Nationale des Beaux-Arts em 1997, descobrindo o Brasil em um intercâmbio feito com uma bolsa de estudos da Collin-Lefranc, na FAAP em São Paulo entre 1999 e 2000.
De 2002 à 2008 desenvolve o projeto “Olhares do Morro” (www.olharesdomorro.org) no morro Santa Marta no Rio de Janeiro, que verá surgir jovens fotógrafos expondo nos encontros da fotografia de Arles, na sede da Unesco em Paris, em Estocolmo ou ainda em Art Basel / Miami Beach. Um dos seus canteiros de pesquisa visual é a cena carioca dos Bailes Funk, a qual documenta desde 2005.
Um trabalho em constante evolução, que foi exposto na Maison Européenne de la Photographie em 2011, na invasão criativa “Made by.. Feito por brasileiros” na Cidade Matarazzo em São Paulo em 2014, no CAHO (Centro de Arte Hélio Oiticica) na coletiva Ser Carioca – no Museu de Arte (MAR) do Rio de Janeiro, na coletiva “Rio, uma paixão francesa” e em retrospectiva individual no Centre d’Art et de Création Photographique – Vila Pérochon de Niort, na França. Fez parte da coletiva « Histórias Afro-Atlânticas » no MASP em 2018.
Em 2019 expôs uma retrospectiva do seu trabalho carioca (Febre Noturna) no Centro Cultural Internacional de Panamá City e em 2020 na Galeria da Gávea. Em junho de 2022 apresentará a sua retrospectiva na Galerie du Passage / Pierre Passebon em Paris. Ele publica também neste ano os seus primeiros fotolivros: Rio Baile Funk, no dia 11 de maio na Aliança Francesa e Bate-bola – Rio Carnaval Secreto na editora {Lp} press.
As obras de Vincent Rosenblatt fazem parte do acervo permanente de instituições públicas como a Maison Européenne de la Photographie, o CACP Vila Pérochon, e é representado internacionalmente em várias coleções particulares. Seu trabalho já foi publicado no New York Times (Lens), National Geographic, Le Monde, Gente di Fotografia, GUP, Libération, Courrier International, Dagens Næringsliv, Repubblica Delle Donne, Afisha- Mir, entre outros.
SERVIÇO:
Exposição Insouciance Juventudes Transatlânticas, de Vincent Rosenblatt
Abertura dia 14 de abril de 2022 – Quinta-feira Horário: 18h30
Em cartaz até 18 de julho de 2022
Galeria Aliança Francesa
Rua Muniz Barreto, 746 – Botafogo
De 14/04 a 18/07
Horários de visitação: Seg a sex – 10 h às 20h / Sáb – 9h às 12h
Entrada Franca