Por meio de seus projetos autorais, Águeda Mascarenhas está comprometida na busca das próprias raízes, explorando tradições e histórias da Bahia e experimentando com a autorrepresentação.
Na fotografia intitulada “Corre pra dentro, menino“, finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024 na categoria Imagem Destacada, ela consegue sintetizar em uma só cena muito do ambiente de Canudos (BA). O local que foi palco da Guerra de Canudos, carrega uma herança de profunda resistência e sobrevivência, testemunha silenciosa da história do Brasil. O menino que corre para dentro de casa representa a ludicidade e a resiliência das crianças que, mesmo em meio a aridez do sertão e às dificuldades impostas pela vida, encontram espaço para brincar e sonhar.
Na entrevista a seguir, Águeda Mascarenhas conta sobre sua trajetória e seus projetos. Descubra.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
51 anos. Na cidade de Salvador, Bahia
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A minha jornada na fotografia começou ainda na infância quando ganhei dos meus pais a minha primeira câmera aos 10 anos de idade, gesto que despertou uma paixão até então latente em mim. Esse presente amplificou o meu interesse por capturar momentos cotidianos e despertou em mim a vontade de contar histórias através das minhas lentes.
Em 2014, transformei a paixão em profissão e, desde então, me dedico à fotografia documental, social e autoral. Através da fotografia documental, mergulhei em uma busca por um olhar mais atento ao cotidiano com a finalidade de capturar e transformar histórias impactantes em narrativas visuais, como ferramenta de expressão e documentação.
Ao longo dos anos, participei de exposições individuais e coletivas, e contribuí para projetos como o “150 Fotos pela Bahia”, durante a pandemia. A minha trajetória é marcada pela conexão com as raízes baianas, com a história da minha família e da minha terra, na qual a fotografia desempenha um papel fundamental no instante em que permite a eternização dos momentos que retratam essas histórias.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O trabalho ”Corre pra dentro, menino”, finalista do Prêmio Portfólio Fotodoc 2024, foi realizado em 2018 no sertão baiano, no histórico vilarejo de Canudos Velho. Esse lugar, que foi palco da Guerra de Canudos, carrega uma herança de profunda resistência e sobrevivência, testemunha silenciosa da história do Brasil.
A proposta dessa obra foi capturar a essência do cotidiano de Canudos Velho, um lugar impregnado de memória e cultura, onde as marcas do passado se entrelaçam com a simplicidade e a beleza da vida atual. A fotografia retrata a ludicidade e a resiliência das crianças que, mesmo em meio a aridez do sertão e às dificuldades impostas pela vida, encontram espaço para brincar e sonhar, ainda que ao final do dia precisem correr de volta para dentro de casa. Meu objetivo foi capturar ao mesmo tempo a dureza do sertão e a suavidade da infância, mostrando como a história de resistência continua viva nas novas gerações.
Essa fotografia é parte integrante do meu trabalho mais amplo de documentação da vida cotidiana nas regiões nordestinas brasileiras. Ao longo dos últimos dez anos, tenho me dedicado a registrar a vida e a cultura dos sertanejos, buscando contribuir para a compreensão e valorização dessas histórias. Meu trabalho é uma tentativa de revelar a beleza e a dignidade que persistem nas regiões menos visíveis do país, e “Corre pra dentro, menino” é um reflexo desse compromisso com a fotografia documental.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente estou envolvida em diversos projetos de documentação focados na tradição cultural da Bahia. Tenho acompanhado e registrado a vida de grupos tradicionais como o Paroano Sai Milhó, grupo que faz parte do carnaval de Salvador há seis décadas. Também estou documentando outras expressões culturais importantes, como o Baile Pastoril Queimada da Palhinha de Simões Filho, o Nego Fugido, e As Caretas de Acupe de Santo Amaro. Além disso, documento a essência das festas populares baianas incluindo o Bembé do Mercado, a festa de Iemanjá, e a Irmandade da Boa Morte.
No âmbito autoral, desenvolvo um projeto de autorrepresentação onde exploro formas de me expressar em conexão com a minha identidade cultural e pessoal.
Para o futuro planejo expandir esses projetos, aprofundando ainda mais minha exploração das tradições e histórias da Bahia. Estou comprometida em continuar usando a fotografia como uma ferramenta para valorizar e preservar a cultura baiana, ao mesmo tempo em que busco novas formas de expressão criativa dentro do campo fotográfico.