Aos 50 anos, a fotógrafa gaúcha Alê Bruny transformou seu olhar em instrumento de documentação ética e afetiva das crises humanitárias. Atuante em Porto Alegre e em todo o Rio Grande do Sul, ela dedica seu trabalho aos territórios e comunidades atingidos pela crise climática que assola o estado desde 2023, desenvolvendo uma abordagem fotográfica que privilegia a escuta sensível e a preservação da dignidade dos retratados.
Seu ensaio “Entre reflexos: os segredos que sequestramos“, finalista na categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um testemunho poético e urgente da maior tragédia ambiental da história do Brasil. Realizado em Eldorado do Sul (RS) em junho de 2025, durante a reincidência de enchentes que completavam um ano dos eventos extremos de maio de 2024, o trabalho transcende o registro documental para explorar a água como espelho metafórico – revelando tanto o que ela leva e devolve, quanto o que guarda e tenta esconder. A série captura os “desastres dentro do desastre”, focando nos dramas individuais, nas perdas imensuráveis e, especialmente, nos gestos de humanidade que persistem mesmo em meio ao caos, refletindo o compromisso da fotógrafa em construir narrativas visuais que honrem a complexidade das experiências humanas em situações de crise.
Conheça mais sobre este trabalho profundamente necessário e os projetos futuros de Alê Bruny na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 50 anos. Vivo atualmente em Porto Alegre e atuo em todo o Rio Grande do Sul, especialmente nos territórios impactados pela crise climática e humanitária que o estado enfrenta, com maior intensidade e frequência, desde 2023.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar quando minhas filhas gêmeas nasceram. No início, era apenas um hobby, um desejo de preservar a primeira infância delas. Fiz meu primeiro curso básico e, quando percebi, já não havia mais espaço para outra profissão na minha vida. A fotografia se tornou parte de mim, minha linguagem e meu ofício — um modo de enxergar o mundo e de me enxergar, falar sobre o que eu vejo, mas também sobre quem eu sou.


Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Meu ensaio finalista, “Entre reflexos: os segredos que sequestramos”, foi realizado na cidade de Eldorado do Sul, no RS, no mês de junho de 2025, em meio a reincidência de uma enchente 1 ano após os eventos extremos de maio de 2024 que culminaram na maior tragédia ambiental da história do Estado e do Brasil.
A série nasceu da urgência de documentar não apenas o desastre, mas os infinitos “desastres dentro do desastre” — os dramas individuais, as perdas imensuráveis e, sobretudo, os gestos de humanidade que resistem mesmo em meio ao caos.
A proposta é olhar para a água como espelho, registrando o que ela leva, o que devolve, o que guarda e também o que tenta esconder.
É também parte central da minha produção fotográfica, que se dedica a construir narrativas visuais éticas e afetivas sobre crises humanitárias, sempre preservando a dignidade e o tempo dos que me permitem a escuta.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Sigo documentando as histórias de pessoas afetadas pela crise climática no RS, muitas delas que acompanho desde a enchente de setembro de 2023, outras dos resgates e abrigos de maio de 2024, e até as atualmente vivendo em fase de reconstrução. Paralelamente, desenvolvo projetos culturais voltados para memória, educação e arte como ferramentas de resistência em contextos de crise.
Meus planos para um futuro próximo incluem publicar um livro reunindo as narrativas que venho registrando, criar um documentário que una imagem e testemunho, e seguir participando de exposições e editais que deem visibilidade a essas histórias. Quero que meu trabalho siga cumprindo o papel que acredito ser essencial: documentar para transformar.

