Aos 56 anos, a fotógrafa venezuelana radicada em São Paulo Anabel Morey constrói uma obra que transita entre a memória, o território e a identidade. Com uma trajetória iniciada em 2012 na Venezuela, onde trabalhou com gastronomia e arquitetura, e posteriormente aprofundada na Espanha, ela desenvolveu uma abordagem fotográfica que transforma a câmera em instrumento de tradução de atmosferas e de compreensão do mundo – e de si mesma.
Seu trabalho “Identidade“, finalista na categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é uma investigação visual sobre os códigos de autoexpressão na metrópole paulistana. Realizado ao longo dos cinco anos em que vive na cidade, o trabalho decifra como as escolhas estéticas – das roupas às tatuagens, dos adornos aos penteados – funcionam como manifestos silenciosos de identidade. Através de um olhar estrangeiro que paradoxalmente se reconhece no outro, Morey captura histórias de resistência, autenticidade e autodefinição que pulsam nas ruas de São Paulo, revelando como a aparência se torna território de liberdade e expressão individual em uma cidade marcada pela diversidade e contradição.
Descubra mais sobre esta pesquisa visual e os projetos futuros da fotógrafa na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 56 anos. Vivo em São Paulo, cidade que hoje é minha casa e também meu território de descobertas.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A fotografia entrou na minha vida em 2012, na Venezuela, onde iniciei minha formação e trabalhei com imagens de gastronomia e arquitetura. Mais tarde, na Espanha, mergulhei em um trabalho mais íntimo, onde a identidade e a memória se tornaram fios condutores.
Para mim, fotografar é um ato de tradução: traduzo lugares, atmosferas e pessoas em imagens que me ajudam a compreender o mundo e a mim mesma. Embora more no Brasil há muitos anos, carrego sempre uma sensação sutil de estrangeira — e é através da fotografia que encontro pontes, reconheço o outro e, de alguma forma, também me reconheço.



Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
São Paulo me recebeu há cinco anos, depois de um longo período em Porto Alegre — cidade de ritmos mais contidos, semelhante à Caracas da minha infância. Em contraste, São Paulo pulsa com diversidade, contradição e liberdade.
Fotografando nas ruas, percebi que o modo como as pessoas se vestem, tatuam ou adornam o corpo é mais do que estética: é um manifesto silencioso sobre quem são e como querem ser vistas. Esses sinais visuais revelam histórias de resistência, autenticidade e auto definição.
Essa investigação sobre a relação entre aparência e identidade dialoga diretamente com minha produção fotográfica, onde busco compreender como a imagem — escolhida e construída — se torna um território de expressão e liberdade.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Sigo expandindo meu ensaio sobre identidade, aprofundando as camadas que definem quem somos para além da superfície.
Ao mesmo tempo, desenvolvo um projeto em São Paulo sobre ausência e memória que propõe um olhar sensível sobre os vestígios urbanos deixados por gestos cotidianos, em uma São Paulo marcada pela velocidade, pela exclusão e pela adaptação constante dos corpos ao espaço.


