Bruno Stuckert faz parte de uma família de fotógrafos que remonta três gerações acima, desde bisavô, avô e pai. A família Stuckert está estabelecida em Brasília desde a fundação da capital federal, quando Roberto Stuckert chegou para registrar sua construção e inauguração. No acervo familiar construído ao longo dos anos, boa parte da história política do Brasil está registrada.
Bruno Stuckert dá seguimento a essa tradição. Desde 2012, com a ascensão da extrema direita no Brasil, ele desenvolve um projeto pessoal de documentação das movimentações populares na capital federal. Esse movimento desdobrou-se de maneira trágica e assustadora em 8 de janeiro de 2023, poucos dias após a posse do presidente Lula, quando seguidores de Bolsonaro, inconformados com sua derrota eleitoral, invadiram e vandalizaram as sedes dos três poderes na esperança de desencadear um golpe de estado.
Ao saber do que estava acontecendo, Bruno Stuckert dirigiu-se ao local para fotografar os atos golpistas. Vândalos o agrediram, roubaram sua câmera e seu celular, fazendo com que perdesse todas as imagens captadas naquele dia lamentavelmente histórico.
Ao retornar à cena do crime no dia seguinte, dentre as cenas dantescas registradas, uma delas tem uma força especial por sua simbologia. A cabeça de uma estátua representando a Justiça encontrava-se retirada do corpo virada para baixo, jogada em frente ao o prédio do Supremo Tribunal Federal, com as fachadas de vidro quebradas ao fundo. Por seu poder de síntese, a foto, intitulada “A Justiça” foi escolhida dentre as finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024.
Descubra um pouco mais sobre o fotógrafo e sua obra na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
44 anos, Brasília/DF.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Minha família é conhecida por ter muitos profissionais na fotografia. Desde bisavô, avô, tios, primos e até os meus pais são fotógrafos.
Eu comecei carregando os equipamentos do meu pai, ele carregou do meu avô, que provavelmente carregou do meu bisavô.
Então, convivo com máquinas fotográficas, salas escuras de revelação e um enorme acervo fotográfico desde muito criança.
Até meus trinta anos, acredito que trabalhava como um funcionário da fotografia.
Depois disso, comecei a mergulhar no universo da imagem, da estética e da história da arte.
Hoje me vejo como autor da minha obra.
A máquina está sempre comigo, tornou-se um pedaço de mim. Com ela é que registro e componho todas as narrativas que atravessam minha produção artística.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A TV informou que apoiadores do ex-presidente invadiram e vandalizaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal na Praça dos Três Poderes em Brasília. Saí de casa para continuar minha série de registros, cobrindo a cidade como palco de manifestações políticas típicas de uma capital federal.
Meu projeto começou em 2012, quando a ascensão da extrema-direita no Brasil traçou o caminho que levou o país a ser comandado por uma cúpula militarizada e neoliberal por quatro longos anos. O governo da direita terminou com uma tentativa de impedir a terceira posse do líder da esquerda do país, um dia antes dessa foto.
Durante a cobertura dos atos golpistas, registrei cenas de vandalismo e expressões de raiva. Fui atacado.
Roubaram primeiro meu cartão de memória, depois minha câmera fotográfica e meu celular.
No dia seguinte, o que restou foi a estátua “A Justiça” de Alfredo Ceschiatti, de cabeça para baixo, em frente ao Supremo Tribunal Federal.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Estou lançando meu livro Obrigado, Bahia em agosto. Me dedicando a fotografar o cerrado.