Carla Bernhardt: a pele como superfície sensível

A fotógrafa Carla Bernhardt constrói uma obra poética e documental que explora as transformações identitárias do Carnaval da Guadalupe, ilha caribenha onde vive e trabalha desde 2014. Com uma trajetória fotográfica iniciada na adolescência ao descobrir a câmera de seus pais, ela desenvolve uma prática onde a imagem funciona como linguagem necessária para “dizer o que não pode ser dito com palavras”, prestar tributo ao cotidiano e escrever fragmentos de histórias que escapam ao verbal. Sua fotografia emerge como registro do que a comove, testemunho do efêmero e celebração do ordinário transformado em extraordinário através das lentes.

Seu portfólio “metamorfose íntima” (Intimate Metamorphosis), finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um projeto realizado ao longo de vários anos durante as temporadas de Carnaval com os “Groupes à Po”. Os Mas à Po – trajes corporais integrais que são marca cultural e identitária do Carnaval da Guadalupe – encontram sua força nas tradições ancestrais, e Bernhardt os captura através de janelas, portas entreabertas e espelhos, intrusando na intimidade daqueles cujos corpos se transformam durante este período de festa e liberação. A metamorfose questiona não apenas a identidade cultural e crioula, mas também a relação com o corpo, gênero e sociedade: a pele cobre-se enquanto o olhar revela-se, transformando a epiderme em superfície sensível cujas linhas podem ser deslocadas, medium que abre possibilidades infinitas de escrita de si para aproximar-se da pluralidade e complexidade do ser. O trabalho, tanto poético quanto documental, aspira ser sensível, estético e narrativo.

Conheça mais sobre esta exploração visual das máscaras caribenhas e os projetos em desenvolvimento na entrevista que segue.

Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?

Tenho 48 anos e vivo e trabalho em Guadalupe, uma ilha caribenha, desde 2014.

Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?

A fotografia faz parte da minha vida desde minha adolescência, quando descobri a câmera dos meus pais. Tiro fotos para lembrar, para manter um registro do que me impressiona, para testemunhar e escrever pedaços de histórias, para dizer o que não pode ser dito com palavras, para prestar tributo aos eventos cotidianos ordinários. Vivencio a fotografia como uma necessidade e uma linguagem.

Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?

Metamorfose Íntima é um projeto realizado ao longo de vários anos durante a temporada de carnaval com os “Groupes à Po”. Os Mas à Po, uma característica cultural e definidora de identidade do carnaval em Guadalupe, tiram sua força das tradições ancestrais.

Através de uma janela, uma porta entreaberta ou um espelho, me intrometo na intimidade daqueles cujos corpos são transformados durante este período de folia e liberação.

A metamorfose questiona não apenas a identidade cultural e crioula, mas também a relação com o corpo, gênero e sociedade.

A pele é coberta e o olhar é revelado.

A pele torna-se uma superfície sensível cujas linhas podem ser deslocadas, um medium que abre possibilidades infinitas de escrita sobre si mesmo para aproximar-se da pluralidade e complexidade do ser.

Tanto poético quanto documental, este trabalho fotográfico pretende ser sensível, estético e narrativo.

Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?

Atualmente estou trabalhando em vários projetos documentais de longo prazo, bem como em um projeto pessoal em Guadalupe.

Conheça os finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025