Seu desejo na adolescência era virar fotógrafo de guerra, mas a vida acabou levando Cássio L. por outros caminhos. Ele seguiu carreira de redator publicitário, trabalhando em Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Luanda, capital de Angola. Após retornar ao Brasil, estabelecido em Contagem, na grande Belo Horizonte, o desejo de voltar a fotografar o conduziu à fotografia documental.
Cássio L. aborda temáticas ligadas à exclusão social e crises humanitárias. Como fotógrafo negro, desenvolve projeto sobre a negritude. Ao acompanhar a questão das drogas, acabou por acompanhar o dia a dia de um ponto de venda de drogas, retratando usuários de crack.
O Ensaio Crack 0,9%, finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2023, desvela um pouco desse ambiente. Diante da falência de políticas públicas, dependentes são tratados como criminosos e tornados invisíveis, colaborando para uma crise humanitária de grandes proporções. Cássio L. resgata a humanidade desses usuários, exibe seus rostos e sua dignidade. Conheça um pouco mais da gênese desse projeto e da trajetória de seu autor.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 63 anos. Vivo e trabalho em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar na adolescência. Tinha o sonho de ser fotógrafo de guerra. No entanto, a vida tomou outro caminho. Um estágio como redator em uma agência de publicidade fez com que minha vida mudasse de percurso. Como redator trabalhei em Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Luanda, capital de Angola. Após retornar ao Brasil, senti o desejo de voltar a fotografar. A partir de então me tornei fotógrafo documental, com trabalhos na área da exclusão social e crises humanitárias. Este ano realizei a exposição individual “Faces do Invisível: Retratos de Catadores de Material Reciclável”. Em outubro, vou participar de uma exposição coletiva, por ter sido selecionado em um edital da Secretaria de Cultura de Contagem.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2023. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Como fotógrafo documental voltado para exclusão social e crises humanitárias, há muito tempo acompanho a questão das drogas. Em determinado momento achei que era hora de transformar esse interesse em um projeto fotográfico. Após algumas tentativas, consegui autorização do chefe de uma biqueira (ponto de venda de drogas) para fotografar o movimento. Durante cinco meses frequentei semanalmente esse lugar, conversando e fotografando os dependentes de crack. Esse ensaio é um recorte das centenas de fotografias produzidas nesse período. A falência absoluta das políticas de combate às drogas e a insistência do poder público em classificar usuários como criminosos e não como doentes, levou à criação de uma crise humanitária extremamente grave. É nesse sentido que a série Crack 0,9% se encaixa na minha produção fotográfica.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente, me dedico a um projeto sobre a negritude. Como fotógrafo negro, decidi fazer desse trabalho um mergulho e um resgate da minha ancestralidade. Como dependo de editais públicos e privados para publicar meus trabalhos – a produção sou obrigado a bancar com recursos próprios – meu objetivo é ser selecionado em algum edital que possa financiar a exibição desse projeto, por meio de uma exposição e a produção de um livro. Mas dizem que o homem faz planos, Deus ri. Então, falo sempre que é um sonho. Para não dar azar. Vai saber, né?