Colecionar imagens de tempos e espaços distintos, relacioná-las por meio da justaposição, fazendo com que funcionem coletivamente, agindo umas sobre as outras. Essa é a proposta do Ensaio “Até”, de Claudia Tavares, um dos finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024. O trabalho é composto por dípticos e trípticos e tem como proposta testar os limites, documentar estados de vida e morte, cortes, quedas, transformações. Cada imagem composta cria conversas em seu interior e todas elas agem coletivamente.
Claudia Tavares tem uma trajetória iniciada no audiovisual e na publicidade. Trabalhou na equipe do filme Central do Brasil (1998), de Walter Salles, que tornou-se um clássico do cinema brasileiro contemporâneo. Lecionando na escola de Artes Visuais do Parque Lage, tem um trabalho artístico voltado às imagens técnicas.
Conheça mais sobre seu percurso e sobre o trabalho finalista na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 57 anos e vivo e trabalho no Rio de Janeiro
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a me aproximar da fotografia aos 17 anos, em um curso do Ivan Lima na escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde atualmente dou aula. Lá se vão 40 anos… mas nem sempre a fotografia esteve totalmente presente na minha vida. Me afastei dela um pouco quando trabalhei numa agência de publicidade e em produtoras de audiovisual nos anos 90. Depois de fazer parte da equipe do filme Central do Brasil (uma experiência maravilhosa) fui morar em Londres e acabei ficando lá por 3 anos. Foi quando me reaproximei da fotografia, fazendo um mestrado em Imagem e Comunicação. Posso dizer que o campo das imagens técnicas é onde me encontro, seja produzindo meus trabalhos, pesquisando, estudando, preparando exposições, livros e fotofilmes, dando aulas e orientando grupos em suas produções autorais. Acho um mundo fascinante e sou feliz em participar dele.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
“Até” é o meu primeiro ensaio que chamo de coleção de imagens. Ele difere de outros ensaios porque todas as imagens foram feitas em espaços e tempos distintos. Esse ensaio documenta estados de vida e morte, cortes, quedas, transformações, evidenciando estados de transitoriedade e circularidade. Todo corpo vivo tem uma trajetória, e o tempo é comum a todos esses corpos. Estou falando do ciclo da natureza, do ciclo da vida. E as imagens propostas em dípticos e trípticos também são pensadas como corpos em si, que colocadas lado a lado, potencializam a ideia de tempo circular e da coletividade entre as imagens, ou seja, no poder que uma tem de influenciar a outra, ampliando assim seus significados.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Estou preparando uma exposição para o ano que vem, ainda sem data exata. Os trabalhos começaram nas duas residências que fiz, uma no Labverde, na floresta amazônica e outra em Paranapiacaba, na mata atlântica. Os trabalhos refletem a preocupação com a crise climática, com o futuro das nossas matas e florestas, da vida humana no planeta, que vem sendo o foco principal da minha pesquisa artística nos últimos anos. Além disso, tem também um fotolivro sendo gestado, em processo de edição, experimentações, testes. Nesse caso, um projeto bem autobiográfico.