À primeira vista, a fotografia de arquitetura e interiores parece corresponder a uma faixa de mercado pequena e muito especializada. Na realidade, é um nicho que abarca o ramo da construção civil de maneira ampla, atendendo a escritórios de arquitetura, empreiteiras e empresas que produzem materiais de construção e acabamento, objetos de design e decoração. Segundo o fotógrafo carioca Denilson Machado, 53 anos, trata-se de um mercado atraente, ainda deficiente e mal atendido, com muito espaço para crescer.
Machado é autodidata, nunca estudou Fotografia ou Arquitetura, tampouco foi assistente de algum profissional renomado da área. Com talento e dedicação, traçou uma trajetória de duas décadas na fotografia de arquitetura e interiores e já teve imagens publicadas em cerca de 160 capas de revistas. Domina como poucos os dois principais aspectos da especialidade: fotografar a estrutura arquitetônica de edifícios e casas, sua aparência externa, a maneira como se insere na paisagem e a configuração do interior, os espaços e a divisão dos cômodos, a decoração e o acabamento.
Antes da era digital, muitos fotógrafos especializados usavam câmera de grande formato, que permite fazer correção de perspectiva, ou recorriam a lentes especiais tilt-shift em câmeras SLR de pequeno formato para a mesma finalidade, porém de maneira mais limitada. Hoje, a correção de perspectiva pode ser facilmente realizada em softwares de pós-produção. Denilson Machado começou usando câmera de médio formato e foi um dos primeiros a migrar para o digital, em 2003. “O digital trouxe condições de entregar um trabalho ainda melhor, mas também fez surgir muitos pretensos profissionais que não valorizam o segmento nem o mercado de fotografia”, avalia.
Ideias construídas
Machado argumenta que em fotos de interiores cada ambiente tem luz específica e o melhor horário para fotografar pode variar bastante. Para as imagens de fachadas, no entanto, ele recomenda que sejam feitas no início da manhã ou no final da tarde, quando a luz é mais suave. O especialista é minimalista quando se trata de equipamento: usa uma câmera Canon EOS 5D Mark III, de 22,3 MP, acompanhada da lente 24-105 mm f/4L em 90% dos casos. Quando precisa de uma grande angular um pouco mais acentuada, escolhe a zoom 17-40 mm f/4L. “O equipamento é o de menos na fotografia”, acredita.
Também não usa flashes ou painéis de LED. Todas as fotos são feitas com luz natural e a iluminação artificial do próprio ambiente. Nesse quesito, o tratamento digital oferece muitas facilidades, pois permite balancear a iluminação interna e a iluminação externa por meio da fusão de fotografias feitas a partir de um mesmo enquadramento com diferentes regulagens de exposição – técnica chamada de bracketing.
Por conta de uma agenda bastante cheia, Denilson Machado não faz visitas prévias aos locais que vai fotografar. Quando se trata de um cliente novo, costuma conversar e pesquisar um pouco sobre o trabalho realizado pelo cliente e sua linguagem em arquitetura para ter em mente a melhor abordagem e quais elementos deverá ressaltar.
Ele se dedica a apenas um projeto por dia: chega no início da manhã e fica no local até o entardecer, observando a melhor luz para cada imagem captada. Gosta de trabalhar sozinho, sem assistente, mas em alguns casos é acompanhado por alunos ou ex-alunos de seus cursos, que buscam observar e aprender um pouco da prática. Para ele, o principal momento de criação é o que precede o clique. Por isso, prepara cuidadosamente os cenários que fotografa. “Construo muito as minhas imagens com o intuito de melhorar a composição. Faço muitas interferências na decoração, mas sempre com o consentimento dos arquitetos. Costumo dizer que fotografo pouco e construo muito”, confessa.
Olhar diante da técnica
Tratamento de imagem não é com Denilson Machado. Esse trabalho fica a cargo de três funcionários contratados do Estúdio MCA, criado por ele em 2000, em Niterói (RJ), e que conquistou aos poucos uma clientela variada, composta de arquitetos e empresas de diversos lugares, inclusive fora do Brasil. “Não tenho intimidade com Photoshop ou Lightroom. Tento resolver todos os problemas na hora do clique, mas entendo a importância do tratamento para limpar, retocar algumas imperfeições ou equilibrar a luz. Nunca tratei uma foto, pois me especializei na parte artística, que é fotografar”, ressalta.
O portfólio do Estúdio MCA de Denilson Machado inclui trabalhos de publicidade, como a campanha mundial realizada em 2018 para a Vitra, uma das maiores fabricantes de móveis do mundo, baseada na Suíça, e as campanhas para a fabricante de tintas Suvinil de 2017 e 2018 para a América Latina. Dentre outras empresas de grande porte atendidas pelo estúdio estão Florense, Deca e Cosentino.
Para o fotógrafo, o segredo da profissão não está na técnica, mas na formação do olhar. “Como em todas as áreas da fotografia, mas ainda mais nesse segmento, o olhar é que faz a grande diferença. Ninguém, nenhum cliente novo, ao me contratar, perguntou qual era meu equipamento. Portanto, a dica é: invista em seu olhar, seja em cursos, em visitas a museus, a exposições, não apenas de fotografia, adquira o máximo de cultura possível”, aconselha.
Machado lançou recentemente um livro (veja box), resultado de uma produção iniciada há quatro anos por ele e que mostra projetos fotografados no Brasil para cerca de 180 escritórios de arquitetura e design de interiores importantes nos cenários nacional e internacional. “Era meu desejo deixar um legado para que as futuras gerações visualizem, através do meu olhar e dos meus registros, as tendências da arquitetura e do morar brasileiros que estão ultrapassando fronteiras”, afirma.
Livro comemorativo
Para comemorar os 20 anos de carreira, Denilson Machado lançou o livro Minhas Verdades Incompletas, composto de 366 imagens, uma para cada dia do ano. Duas designers assinam o projeto gráfico, Silvia Girão e Clara Noronha. Machado convidou o artista visual e escritor Jozias Benedicto para escrever os textos e as poesias que acompanham as imagens. O livro foi impresso e publicado pela gráfica e editora IPSIS. Com 420 páginas em papel couchê importado e capa dura, custa R$ 300 e pode ser adquirido diretamente no Estúdio MCA pelo e-mail estudio@mcaestudio.com.br.