Com apenas 33 anos de idade, Felipe Dana se transformou rapidamente em um dos fotojornalistas brasileiros de maior destaque no mundo. Finalista por três anos consecutivos do Prêmio Pulitzer (2017, 2018 e 2019), teve seu talento recentemente reconhecido com a conquista do prêmio Fotógrafo Ibero-americano do Ano, principal categoria do concurso POY Latam, concedido por um portfólio de imagens com trabalhos realizados em 2017 e 2018.
O trabalho dele começou a ganhar visibilidade global a partir de 2009, quando passou a integrar a equipe da agência Associated Press (AP). Baseado no Rio de Janeiro, onde nasceu, destacou-se na cobertura de hard news, acontecimentos políticos, questões sociais, além da preparação e da realização da Copa do Mundo (2014) e dos Jogos Olímpicos (2016), momentos em que o Brasil teve grande visibilidade no cenário global.
A partir do final de 2016, ele foi escalado para atuar em conflitos no Oriente Médio e cobrir fatos marcantes na Europa. Ganhou notoriedade por ser o primeiro fotógrafo a conseguir imagens aéreas de Mossul, no Iraque, durante a guerra do exército iraquiano aliado às forças lideradas pelos Estados Unidos para retomar a cidade do domínio do Estado Islâmico.
O desafio de cobrir guerras
Felipe Dana diz que a cobertura de guerra envolve a necessidade de uma estrutura proibitiva para fotógrafos independentes. Sem falar no aspecto da segurança, existem muitos desafios que a maioria das pessoas não imagina e a estrutura de uma agência ou de um grande jornal faz muita diferença para esse tipo de trabalho. Para se ter ideia, é comum a contratação de uma pessoa no local chamada de “fixer”. Trata-se de alguém que vive na região há bastante tempo, conhece profundamente o contexto e as línguas locais e tem boas conexões. Esses profissionais são essenciais em zonas de conflito armado, o que aumenta bastante os custos.
“Hoje em dia trabalhar em muitos desses lugares custa muito, muito caro. Toda a logística de transporte, fixer, autorizações, tradutor, comunicação e outros aspectos é complexa e cara. Muitos freelancers que vão por conta própria para tentar vender depois as fotos acabam gastando muito mais para produzir o material do que jornais ou agências pagam pelo trabalho”, comenta Dana.
Para ele, cobrir guerras é a arte de colocar limites para preservar a própria vida. Ele já viveu diversas situações de perigo real, porém a todo momento avalia a situação e o risco para se expor o mínimo necessário para realizar uma boa cobertura. “É muito comum não fazer a foto porque você não sabe se está seguro o suficiente para ir até um local próximo ou mesmo dar um passo para o lado”, conta.
O trabalho para agências
Ser fotógrafo de uma grande agência internacional, como a Associated Press (AP), exige talento, determinação, preparação e uma boa dose de coragem, em certos casos. As pautas e histórias dependem do local em que o profissional atua e dos acontecimentos relacionados ao contexto mundial. Para conseguir se inserir nesse ambiente, é preciso estar pronto para fotografar qualquer tipo de situação, por isso, é fundamental acompanhar de perto o noticiário.
Felipe Dana conta que sempre teve liberdade para propor as próprias pautas e para desenvolver trabalhos de longo prazo. Atualmente, faz parte do departamento Enterprise na AP, voltado para matérias mais longas e coberturas em profundidade. “Com isso, passo a maior parte do tempo viajando entre Oriente Médio e Europa. Nos últimos anos, além da cobertura de grandes eventos esportivos, cobri a guerra contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, conflitos em Gaza, a crise migratória no Mediterrâneo e na Europa, os grupos de extrema-direita na Ucrânia, entre outras pautas de assuntos em voga”, explica.
Ele conta que na AP existe sempre uma preocupação em gerar conteúdos em foto, vídeo e texto. Os profissionais de cada área atuam de maneira coordenada, mas nem sempre saem a campo juntos. Em alguns casos, cada vez mais frequentes, o fotógrafo acaba tendo de fazer também a cobertura em vídeo. Esse não foi um obstáculo para ele, ao contrário: Dana já trabalhava com vídeo antes de se tornar fotojornalista e não teve problemas para se adaptar.
Maurício Lima, André Lihon e Gabriel Chaim são outros fotógrafos brasileiros que se destacam nesse tipo de cobertura. Segundo Felipe Dana, o mais novo da turma, o fato de ser brasileiro muitas vezes causa uma recepção mais amigável em muitos dos países em conflito no Oriente Médio. “Ainda somos vistos como o país do futebol e já usei esse fator várias vezes para sair de situações delicadas”, confessa o fotógrafo.
Atento às oportunidades
Felipe Dana começou a fotografar muito jovem, aos 15 anos. O aprendizado se deu na prática, trabalhando como assistente e fotografando todo tipo de coisa. “Trabalhei com inúmeros fotógrafos de várias áreas desde cedo. Comecei com eventos, depois arquitetura, comercial, retrato, estúdio… Acho que isso foi essencial para minha formação profissional. Pude aprender, experimentar e observar diversas técnicas e diferentes áreas da fotografia”, conta.
Aos 19 anos, abriu o próprio estúdio, no qual realizou retratos e trabalhos comerciais por alguns anos, antes de decidir que iria se dedicar plenamente ao fotojornalismo. Paralelo a isso, fazia frilas para agências nacionais, cobrindo principalmente esporte. Em 2009, aos 23, veio a grande virada na carreira. “Quando soube que tinha uma vaga na AP para o escritório do Rio, decidi tentar e deu certo. A partir daí me dediquei exclusivamente ao fotojornalismo, com foco nos problemas sociais e na preparação do Brasil para a Copa do Mundo e Olimpíada”, relata.
O fotógrafo carioca soube se inserir na estrutura da agência e rapidamente começou a chamar a atenção pela qualidade do trabalho apresentado. Compreendeu que os olhos do mundo se voltariam ao Brasil nos anos que viriam, por conta da realização dos dois grandes eventos do esporte, e direcionou sua cobertura para temáticas relacionadas. Paralelo às pautas do cotidiano, desenvolveu documentações de longa duração.