Aos 66 anos, o fotógrafo portenho Javier Goded constrói uma trajetória fotográfica que une expressão artística e documentação como forma de construção de memória. Natural e residente em Buenos Aires, iniciou sua formação nos anos 1980 através dos fotoclubes – verdadeiras escolas fotográficas muito populares na época – onde aprendeu tanto conceitos estéticos quanto técnicas de laboratório que fundamentariam seu olhar único.
A imagem “Lagnis“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um testemunho de sua capacidade de capturar momentos de rara autenticidade. Realizada em 2016 no lendário ginásio Rafael Trejo, em Havana Vieja, a fotografia retrata uma boxeadora amadora cubana em seu momento de descanso durante um treino. O local, um reduto a céu aberto que formou grandes campeões e homenageia um estudante assassinado durante protestos em 1930, serve como palco perfeito para este instantâneo que transcende o esporte para revelar a resistência e dignidade do povo cubano. A imagem integra-se perfeitamente à produção do fotógrafo, caracterizada por uma abordagem respeitosa e imersiva que privilegia a construção de narrativas visuais profundamente humanas.
Conheça mais sobre este trabalho e os projetos atuais do fotógrafo na entrevista que segue.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 66 anos. Sou de Buenos Aires, onde nasci e vivo.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei nos anos 80 fazendo workshops em diversos fotoclubes, uma espécie de escola fotográfica muito em moda naquela época. Lá aprendi diversos conceitos de captura e estética, assim como técnicas de laboratório.
A fotografia é a linguagem que utilizo como forma de expressão artística e documental. É a linguagem que escolhi para a construção de memória.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A fotografia finalista “Lagnis” é o retrato de uma boxeadora amadora cubana em Havana, em 2016. Fiz a imagem no momento de descanso durante um treino.
Em uma caminhada aleatória, pela rua Cuba, encontro o ginásio Rafael Trejo, um antigo reduto a céu aberto onde treinam boxeadores de todos os gêneros e idades. De lá saíram grandes campeões.
Há poucos ginásios de boxe tão especiais e cheios de tradições enriquecidas por sua história como o Rafael Trejo em Havana Vieja.
É uma joia escondida entre edifícios antigos e deteriorados. É difícil encontrá-lo. Seu nome homenageia um estudante de direito cubano que foi assassinado enquanto participava de um protesto contra o governo de Gerardo Machado em 1930.
Pedindo permissão, integro-me à última hora do treino daquele dia.
“Lagnis” faz parte desse momento.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente estou apresentando meu primeiro livro, “Archipiélago”, trabalho que documenta minha estadia no Arquipélago de Chiloé, uma conversa com sua comunidade através de fotos, textos e poesias.
Meus planos imediatos são a apresentação do livro e o planejamento de um novo projeto em Chiloé e outro projeto sobre astrônomos e astrônomas amadoras.