A fotógrafa mineira Júlia Braga constrói uma obra profundamente enraizada na memória afetiva e nas tradições do interior de Minas Gerais. Natural de João Pinheiro e radicada em Belo Horizonte desde 2012, onde trabalha como fotógrafa e assistente de câmera, ela carrega consigo uma herança visual que vem do avô fotógrafo – que lhe presenteou com a Yashica MG-1 analógica com a qual realizou a imagem finalista. Sua trajetória fotográfica, intensificada durante o curso de Arquitetura e Urbanismo na UFMG em 2014, transformou-se em uma busca por documentar encontros: com lugares, pessoas e histórias que talvez não descobrisse sem a câmera como companheira de jornada.
Sua imagem “O sertão é do tamanho do mundo“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é parte de um projeto documental iniciado em 2017 no vilarejo de Andrequicé, município de Presidente Olegário (MG). O trabalho registra a festa de Nossa Senhora da Abadia – tradição iniciada em 1880 por seu tataravô, João Rodrigues Braga, que construiu uma capela no local e deu início a uma romaria que perdura há mais de 130 anos. A fotografia captura não apenas a devoção religiosa, mas o encontro entre famílias, as fogueiras gigantes de 40 metros, o forró, os banhos de rio e as barracas que transformam o pacato vilarejo em uma celebração vibrante. Mais do que documentação, o trabalho representa um retorno às origens familiares através das lentes, explorando cores vivas, sombras e texturas que revelam um “outro olhar” sobre uma festa que acompanha desde a infância.
Conheça mais sobre esta jornada entre cinema, educação visual e tradições familiares na entrevista que segue.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 29 anos. Sou de João Pinheiro, interior de Minas Gerais, desde 2012 vivo em Belo Horizonte, onde trabalho como fotógrafa e assistente de câmera.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Minha trajetória com a fotografia está ligada ao meu avô, que foi fotógrafo quando era jovem e foi quem me deu minha primeira câmera fotográfica, uma Yashica MG-1, que havia sido dele. Foi com essa câmera analógica que fiz a foto escolhida como finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025.
O interesse pela fotografia tornou-se ainda mais forte quando, em 2014, iniciei o curso de Arquitetura e Urbanismo na UFMG. Nesta época fiz meu primeiro curso de Fotografia, comprei minha primeira câmera digital e comecei a fotografar. A partir daí foram vários cursos, oficinas e estudos que mais tarde desencadearam na escolha de seguir a Fotografia também como profissão.
Para mim a fotografia é sobre encontro. Com ela chego a lugares que talvez eu não chegaria, me aproximo das pessoas, converso, conheço histórias. Me sinto em boa companhia quando saio sozinha com minha câmera e aberta ao acaso, aos encontros, a um papo com um novo conhecido.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A foto escolhida como finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025 foi feita em 2018 no vilarejo de Andrequicé, município de Presidente Olegário, em Minas Gerais. Ela é parte de uma série fotográfica documental que venho realizando desde 2017 no vilarejo de Andrequicé, durante a festa de Nossa Senhora da Abadia.
Andrequicé foi fundado em 1880 por meu tataravô, João Rodrigues Braga que era devoto de Nossa Senhora da Abadia e construiu no local uma capela em homenagem à santa. Com isso iniciou-se na região uma Romaria todo dia 15 de agosto (dia de Nossa Senhora da Abadia), em que os peregrinos vão ao vilarejo agradecer e rezar, usando muitas vezes carros de boi para chegar até o local. A festa cresceu e hoje já faz mais de 130 anos dessa tradição. Para além da origem religiosa, o momento é também de encontro entre as famílias, com muito forró, banho de rio e barracas vendendo tudo o que se pode imaginar. Também existe a tradição de se fazer fogueiras gigantes na praça em frente à igreja, com cerca de 40 metros, que são queimadas ao longo dos dias de festa.
Esse trabalho se encaixa em minha produção fotográfica que tem um interesse pelo documental, por festas tradicionais e pelas pessoas. Desde criança que vou a festa e em um dado momento, quando já fotografava, ela me despertou um outro olhar, para suas cores vivas, sombras e texturas. Comecei então, nos anos em que pude estar presente, registrar um pouco desse movimento que durante uma semana transforma um lugar pacato na beira de um córrego em uma festa cheia de gente de toda a região.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente trabalho principalmente como assistente de câmera em publicidades e cinema (séries, longas metragens etc). Também desenvolvo um trabalho em que realizo Oficinas de Fotografia e Cinema com crianças e jovens, tendo já participado de diversas experiências neste sentido, algumas delas tendo como resultado a produção de curta metragem documental inteiramente feito pelos alunos.
Um dos meus maiores planos em relação a minha produção fotográfica é desenvolver um projeto documental mais consistente sobre a Festa do Andrequicé, para além de toda a memória afetiva que tenho com o lugar, as festas tradicionais brasileiras me interessam muito. Tenho como grande referência o fotógrafo paraense Luiz Braga.