Nascida na antiga União Soviética e radicada em um tranquilo vilarejo dos Países Baixos desde 2013, Julia Zyrina constrói uma obra fotográfica profundamente emotiva usando apenas seu telefone celular como instrumento. Aos 46 anos, esta fotógrafa autodidata descobriu na imagem uma linguagem de expressão pessoal durante sua licença-maternidade, transformando o que começou como escape criativo em uma paixão que define sua identidade.
Seu ensaio “Quando as Flores Desabrocham“, finalista na categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um testemunho visual comovente de cura e resiliência. O projeto nasce de um período de dois anos em que Zyrina fotografou exclusivamente em preto e branco, reflexo de um mundo interior desestabilizado pelo conflito entre dois países que lhe são igualmente queridos. As imagens do ensaio carregam assim uma dupla vida: primeiro como registro monocromático do luto e desorientação, depois como celebração do retorno da cor como ato consciente de reconstrução. Mais do que uma simples transição estética, o trabalho representa uma jornada visual de reconexão com a vida – uma decisão ativa de curar, reencontrar e esperançar através da reintrodução gradual das cores, demonstrando como a prática fotográfica pode servir como ferramenta poderosa de transformação pessoal frente às crises globais.
Conheça mais sobre este processo de cura visual e os projetos futuros da fotógrafa na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Completei 46 anos em agosto. Nasci na antiga URSS e em 2013 mudei-me para os Países Baixos com minha família, pois meu marido é holandês. Desde então, vivemos e trabalhamos em um vilarejo tranquilo e pacífico na região de Limburg.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar em 2018, principalmente registrando meus filhos – algo que ainda me traz alegria hoje. Começou como uma pequena válvula de escape criativa durante a licença-maternidade, mas com o tempo transformou-se em uma paixão que agora preenche grande parte da minha vida. Meu trabalho participou de concursos e exposições, mas permaneço uma fotógrafa mobile. Comecei com um telefone e nunca senti a necessidade de mudar para equipamentos profissionais – porque para mim, nunca foi sobre a câmera, mas sobre a história, o clima e a emoção que você compartilha com o mundo. Embora não seja minha profissão, a fotografia há muito deixou de ser “apenas um hobby” e tornou-se uma parte definidora de quem eu sou.


Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Este projeto carrega um significado profundamente pessoal para mim – as imagens nele contidas, de certa forma, viveram duas vidas. Durante dois anos fotografei exclusivamente em preto e branco. Essa escolha estava intimamente ligada a um período difícil: quando a guerra começou entre dois países que são ambos próximos do meu coração, meu mundo perdeu sua estabilidade e os princípios básicos da minha vida pareceram desmoronar. As cores no meu trabalho – e na minha própria percepção da vida – desvaneceram-se.
A fotografia tornou-se minha maneira de processar essa mudança. Embora não possa dizer que me reconciliei completamente com os eventos globais ou encontrei todas as respostas, cheguei a uma importante realização: minha vida e a vida da minha família continuam e apenas eu posso reconstruir meu mundo interior. Esse entendimento inspirou-me a trazer a cor de volta ao meu trabalho – como uma forma de curar, reconectar e dar esperança. Foi assim que este projeto nasceu: uma jornada visual onde a cor retorna, trazendo a vida de volta com ela.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Continuo a fotografar frequentemente e extensivamente com meu telefone e ainda participo de vários concursos. Também bordado, though menos frequentemente atualmente. Tenho em mente vários projetos de muito longo prazo, conectados aos temas de crianças e lar. No momento, porém, não há uma única ideia que me tenha absorvido completamente. Sinto-me como se estivesse em uma fase tranquila e reflexiva – pausando, reunindo forças e esperando que algo novo e significativo chegue.

