Aos 24 anos, a fotógrafa catarinense Laís Mazzucco constrói uma obra onde a imagem atua como um poderoso instrumento de investigação subjetiva e crítica social. Estudante de Letras e fotógrafa de arte, sua trajetória é marcada por uma busca profunda pelo autorretrato e por referências que vão da icônica Francesca Woodman à filosofia e à literatura, criando um universo visual denso e poeticamente introspectivo.
Seu Ensaio finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, intitulado “Estudos sobre o delírio“, é um trabalho de estreia que consumiu três anos de desenvolvimento. Nele, Laís mergulha nas construções da identidade feminina, dialogando com teorias de gênero e a história da psiquiatria, que historicamente associou a “loucura” ao universo da mulher. Por meio de imagens oníricas, véus e rostos não identificados, a série desmonta a ideia de uma “mulher ideal” e expõe, com sensibilidade e crueza, a experiência do delírio a partir de uma perspectiva tanto pessoal quanto coletiva.
Conheça mais sobre o processo criativo e as influências desta jovem e promissora artista na entrevista que segue.




Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 24 anos, sou natural do interior de Santa Catarina, Orleans, e vivo em Florianópolis, sou fotógrafa de arte e estudante de Letras Português na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Minha trajetória começa com sete anos de idade, em que pego a câmera saboneteira escondida da minha família e tiro um autorretrato chorando, esta foi minha primeira imagem. Depois, comecei a consumir muito a fotografia de Francesca Woodman na pandemia e então tentava reproduzir, um pouco pelo interesse do autorretrato na infância, e pelo teor de Francesca Woodman que era bastante sombrio, nebuloso, fúnebre, e tinha muito vínculo com o período de isolamento social.
Comecei por necessidade subjetiva, depois fiquei um período longe das imagens, lendo, pegando referências do cinema, literatura, artes plásticas no geral, quando voltei estava transbordando e virou quase que uma obsessão. A fotografia me traz muita consciência, sinto que fotografo o inconsciente, como um trabalho psicanalítico. Tem um papel de necessidade subjetiva e objetiva, subjetiva por fotografar o inconsciente, e objetiva para pensar a imagem depois, já que torna luminoso o que foi clicado, faz eu viver melhor.



Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Essa exposição está sendo montada pela terceira vez, a primeira na UFSC, a segunda vez no Centro Integrado de Cultura em Florianópolis, agora na Galeria Venere em Florianópolis também. É minha primeira exposição individual, meu ensaio de estreia, então estive trabalhando nele por três anos até levar ao público. Estive pensando a identidade, a minha como mulher, como artista também, depois socialmente, tive influência da Judith Butler e tentei mesclar com a cultura popular, da mulher ideal, mas ela aparece nas imagens com o rosto não identificado, já que ela não existe, nas imagens em que aparece tem véus, granulado ou não está muito nítido.
Busquei expor o delírio, que surge dos estudos da histeria, que na etimologia significa útero, a loucura esteve associada à mulher na história da psiquiatria, então quis dialogar esse fator com minhas experiências pessoais, levando para um âmbito mais social.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
A continuação deste trabalho já está pronta, mas não foi a público ainda, se chama Ensaio sobre o Real, inspirado em identidade também, é uma transição, as imagens são mais leves, foram inspiradas por Machado de Assis, no conto O espelho, e também O real e seu duplo, de Clément Rosset. Busco misturar a linguagem das palavras nos próximos trabalhos pela influência de letras, em sobreposições escritas, que dialoguem com as imagens, pensando a arte na pós-modernidade através de Walter Benjamin e Ranciere.