Biólogo de formação residente em São Paulo (SP), Leandro Cagiano se interessa pelas artes visuais desde cedo e encontrou na fotografia uma forma de unir as duas paixões. Seus trabalhos estão centrados nos impactos positivos e negativos da ação humana nos ambientes naturais.
Em uma viagem para Cumuruxatiba, na Bahia, ele encontrou uma história interessante para contar através de suas lentes. Ao observar as práticas de pesca artesanal da comunidade local, descobriu que os pescadores saíam em dias de lua cheia para caçar polvos entre os corais. Com a habilidade adquirida pela prática, eles encontram os polvos em suas tocas e garantem sua subsistência por meio de uma atividade que está muito longe de degradar a natureza em escala industrial.
Ao observar luta de pescador e polvo pela sobrevivência, Leandro Cagiano optou por buscar o ponto de vista do animal. Uma das fotos que realizou desde a água, que intitulou “O Polvo”, é finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024. Seu mérito está justamente na perspectiva inusual. Descubra mais sobre o fotógrafo e sua imagem na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
46 anos. Minha base é São Paulo, capital, de onde parto para minhas documentações.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar em 2007, mas já brincava amadoramente com as câmeras que meu pai comprava para registrar as festas de família. Desde cedo minhas aptidões sempre estiveram ligadas às artes visuais. Estudei desenho, ilustração, pintura a óleo e aquarela. Paralelamente, a paixão pela natureza me acompanhava e isso me levou à faculdade de Biologia. Na época, resolvi estudar um pouco mais de fotografia e foi durante esse curso que me dei conta de que essa era a única das artes visuais que poderia unir as artes visuais e a proteção da natureza.
A fotografia na minha vida funciona como uma janela para o mundo. Ela me tira do isolamento de uma prancheta para o contato direto com os personagens. Ela é a maneira como eu expresso a minha luta em defesa dos ambientes naturais, suas espécies e as comunidades tradicionais que estão mais próximas desse ambiente atuando de forma sustentável.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Era pandemia e em uma das flexibilizações de abertura eu e minha esposa fomos de carro para Cumuruxatiba, na Bahia. Durante o período que estivemos por lá, eu buscava histórias para fotografar. Um dia eu descobri que os pescadores locais saiam todos os dias de lua cheia ou nova, durante a maré baixa, em busca de polvos entre os corais. Com um conhecimento empírico e muito apurado eles sabiam exatamente onde os polvos se escondiam e ardilosamente os tiravam das tocas. Essas pessoas vivem da pesca e da caça para sobreviver e a pratica executada sem um impacto significante ao meio ambiente, principalmente se comparado à pesca industrial.
A fotografia é sobre a luta, tanto do polvo, quanto do caçador pela sobrevivência. Mas o polvo era o meu personagem de destaque e meu objetivo era criar as fotografias sobre o ponto de vista do animal e não do caçador. E é na prática sustentável que essa fotografia se encaixa na minha produção fotográfica.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente trabalho em projetos que demonstrem como os nossos hábitos de consumo podem interferir de maneira positiva ou negativa nos ambientes naturais a fim de trazer um debate mais amplo sobre a maneira como lidamos com a natureza.