As cheias do Rio Negro e Amazonas são eventos naturais que ocorrem anualmente e desempenham um papel crucial no ecossistema de inúmeros municípios amazônicos, com impactos mais significativos em Manaus (AM), por conta de seu tamanho. Além de transformar a paisagem, as cheias trazem percalços para a população, em uma região com problemas de infraestrutura.
Essa condição foi extensamente documentada por Michell Mello no projeto Dilúvio Amazônico, desenvolvido entre 2009 e 2022. Uma seleção de imagens desse Portfólio está entre os finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024.
Além da atividade como fotógrafo, Michell Mello tem atuação na cena cultural manauara. Em 2018, ele fundou a Monóculo Academia de Imagem, que tem desempenhado um papel ativo na promoção de atividades participativas, incluindo oficinas, exposições, o prestigiado Prêmio Monóculo de Imagem, Café Monóculo com bate-papos informais, jornadas fotográficas, gincanas e curadorias.
Descubra mais sobre esse atuante fotógrafo e produtor cultural na entrevista a seguir.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
42 anos. Resido em Manaus Amazonas e atualmente desenvolvo atividades do fotojornalismo, publicidade, fotografia corporativa e desenvolvo projetos culturais e ambientais.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Meu envolvimento com a fotografia começou no Fotoclube, onde realizei exposições coletivas e individuais, como “Curumins & Cunhantãs” (2010) e “A Velha Manaus Moderna” (2011), entre outras. Através de minhas experiências em atividades socioculturais, ministrei oficinas em diversos municípios e comunidades ribeirinhas do Amazonas.
Meu percurso profissional iniciou no fotojornalismo político, em 2008, e posteriormente, nas redações de jornais e assessorias de comunicação, minhas fotografias foram publicadas em veículos como obras destacadas nas edições de 2010 e 2021 do Melhor do Fotojornalismo Brasileiro, além de serem veiculadas em veículos internacionais. Hoje, procuro desenvolver um papel na cultura local, fui conselheiro de cultura do estado e suplente no município como Conselheiro de Cultura do Estado do Amazonas, de Artes Visuais e Novas Mídias, criando projetos culturais e contribuindo ativamente para o desenvolvimento e promoção da cultura na região.
Em 2018, decidi impulsionar a cultura fotográfica no Estado do Amazonas, fundando a Monóculo Academia de Imagem. Tenho desempenhado um papel ativo na promoção de atividades participativas, incluindo oficinas, exposições, o prestigiado Prêmio Monóculo de Imagem, Café Monóculo com bate-papos informais, jornadas fotográficas, gincanas e curadorias. Minhas ações geram oportunidades para profissionais e iniciantes que utilizam a fotografia e o vídeo em diversos setores, como marketing e publicidade, visando gerar novas experiências. O papel da fotografia em minha vida hoje é tentar formar novos olhares valorizando a fotografia e o futuro dela.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O projeto Dilúvio Amazônico é uma série de registros fotográficos desenvolvidos no período de 2009 a 2022 e pretendo cobrir para os anos seguintes. Esse trabalho foi realizado na região amazônica, especificamente nas margens dos rios Negro e Amazonas, durante as cheias anuais. A proposta do projeto é documentar tanto a beleza quanto os desafios que essas cheias trazem para os ribeirinhos que vivem ao longo das margens dos rios.
As cheias do Rio Negro e Amazonas são eventos naturais que ocorrem anualmente e desempenham um papel crucial no ecossistema da região. No entanto, essas cheias também trazem uma série de dificuldades para os ribeirinhos e a população das áreas metropolitanas. O projeto aborda problemas como as dificuldades logísticas, a presença de animais peçonhentos, a saúde das crianças e a destruição das plantações. Durante as cheias, os ribeirinhos enfrentam dificuldades logísticas significativas, pois o aumento do nível das águas isola muitas comunidades.
Na Amazônia, o transporte é predominantemente fluvial ou aéreo, e a falta de infraestrutura aeroportuária em muitos municípios e comunidades limita os meios de transporte convencionais. Isso torna o deslocamento de pessoas e o transporte de mercadorias desafiadores, impactando a rotina diária dos moradores e prejudicando a economia local. Além disso, as cheias trazem consigo uma proliferação de animais peçonhentos, como cobras e aranhas, que buscam refúgio nas áreas ocupadas pelos ribeirinhos. A saúde das crianças também é afetada pelas cheias dos rios. A água suja e parada, decorrente do transbordamento do rio, pode se tornar um ambiente propício para a proliferação de doenças como diarreia, hepatite A e leptospirose. A falta de saneamento básico adequado e de acesso à água potável durante esse período dificulta ainda mais a prevenção dessas doenças e o cuidado com a saúde das crianças ribeirinhas.
Outro impacto significativo das cheias é a destruição das plantações dos agricultores. Muitas famílias ribeirinhas dependem da agricultura familiar como fonte de subsistência e renda. As cheias dos rios no Amazonas também apresentam belas paisagens naturais que retratam o cotidiano amazônico. Ao documentarmos e compartilharmos essas imagens, podemos destacar a necessidade de auxílio aos nossos irmãos durante esse período de Dilúvio Amazônico.
Esse projeto se encaixa na minha produção fotográfica ao capturar e revelar as realidades e desafios enfrentados pelas comunidades ribeirinhas, bem como a beleza natural da Amazônia. Ele combina a documentação de eventos naturais com um enfoque social, trazendo visibilidade às dificuldades enfrentadas por essas populações e promovendo a conscientização sobre a necessidade de apoio e intervenções durante as cheias.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Meu desejo é lançar livros dos meus trabalhos, continuar com as atividades com os ribeirinhos como levar cultura e conhecimento onde as políticas públicas não chegam, continuar estudando aprimorando principalmente o que a evolução tecnológica com a IA tem apresentado e entrar por novas portas abertas que a fotografia pode me projetar!