A fotografia documental foi a ferramenta empregada por Nilmar Lage para ajudar na construção da utopia de uma sociedade mais justa. Formado em Jornalismo e vivendo em Ipatinga, interior de Minas Gerais, ele direcionou sua atividade para a cobertura de pautas ligadas aos direitos humanos e da natureza, com denúncias de exploração e apresentação de alternativas aos processos de “desenvolvimento”.
No trabalho “Retirada Violenta”, que está entre os finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025 na categoria Portfólio, o fotógrafo revisita imagens realizadas após o rompimento da Barragem de Fundão, crime socioambiental ocorrido em 2015, que está completando 10 anos. Um importante registro visual da condição enfrentada por milhares de pessoas que são vitimadas pelo rompimento de barragens ou precisam deixar suas casas por viverem em zonas de risco.
Conheça mais do perfil e da atuação desse engajado fotógrafo na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 43 anos, vivo em Ipatinga/MG e trabalho em várias partes do Brasil e por vezes América Latina.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar no primeiro período da Faculdade de Jornalismo, em 2003. Como morador do interior de Minas Gerais, com os jornais submetidos às questões corporativistas da região, o que impedia o desenvolvimento de reportagens de investigação/denúncias do Vale do Aço, meu trabalho acabou sendo majoritariamente no campo do documentário (fotografia e vídeo). A partir do rompimento da Barragem de Fundão, em 2015, eu expandi minha atuação para pautas ligadas aos direitos humanos e da natureza, com denúncias de exploração e apresentação de alternativas aos processos de “desenvolvimento”.
Onde venho atuando até hoje. A fotografia me proporciona viver realidades que não são as minhas e a partir da minha interpretação destas experiências de confluência, eu tenho a possibilidade de levar para outras esferas de conhecimento assuntos e temas diversos, que por vezes ousam tocar a utopia da construção de uma sociedade mais justa.
Sou Mestre pelo Programa Interdisciplinar de Pós Graduação em Estudos Rurais da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM) (2021), com uma pesquisa fotoetnográfica sobre a Comunidade Quilombola do Ausente. Pós Graduado em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Estácio de Sá (2019). Graduação em Comunicação Social / Jornalismo pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (2006), além de formação internacional no Centro de Fotografia de Montevideo (CDF) e pela Escuela Internacional de Cine Y TV (EICTV), em Cuba.
Atuo principalmente nas áreas de fotografia e audiovisual.
Como jornalista independente, colaboro com Greenpeace, Brasil de Fato, Agência Pública, AFP (Agence France Press), REUTERS, The Intercept Brasil, MAM (Movimento Pela Soberania Popular na Mineração), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ASA (Articulação do Semiárido), MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), CAV (Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica), Sind-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadore em Educação de Minas Gerais), Mídia Ninja e outros.
Sou autor de documentários como “Maura e Robinson” que conta a história de dois ex-presos políticos, “Senta a Pua” (que fala do massacre de trabalhadores da Usiminas, em Ipatinga/MG em 1963) e da websérie “Massacre de Ipatinga: versão dos autos”; “Fragmentos de um Conflito Iminente” (trazendo movimentações iniciais para o golpe civil militar de 1964); “Esperança Liberdade Novo Horizonte” (um ponto de vista sobre uma ocupação do MST no leste de Minas Gerais); “Remanescência”(fazendo um registro das tradições africanas nas comunidades quilombolas do Ausente e Baú, na cidade do Serro/MG).
Lancei em 2017 o fotolivro “Corpos Conflitantes”, que recebeu o prêmio “Mídia e Direitos Humanos” da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais. Possuo uma vivência no Vale do Jequitinhonha/MG desde 2008 e desde o rompimento das barragens de Fundão e Mina Córrego do Feijão, acompanho desdobramentos desses crimes socioambientais.
O trabalho “Retirada Violenta” tem circulado por festivais no Brasil e no mundo e recebeu uma Menção Especial da ONU Migración em 2021. Em 2023, fui homenageado com o Troféu Chico Ferramente de Direitos Humanos, pelo documentário “Senta a Pua”. Em 2024, fui premiado pelo CNPq por uma imagem de sua pesquisa no Quilombo do Ausente.





Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Retirada Violenta começou a ser organizado em 2018. Foi logo depois do lançamento de meu livro “Corpos Conflitantes” (2017), que eu percebi que o tema ainda estava com algumas possibilidades de exploração. Assim, voltei aos arquivos do rompimento da Barragem de Fundão, aproveitei pautas que tratavam de temas parecidos para, paralelamente ao trabalho de fotojornalista, desenvolver esse projeto documental.\
O projeto parte do termo “esbulho possessório”, que é a retirada violenta do legítimo possuidor de um imóvel, mas expandi para o título “Retirada Violenta”, abrangendo a retirada de garantias fundamentais da Constituição Federal. O recorte apresentado para o FotoDoc 2025, é focado nas imagens pós rompimento da Barragem de Fundão, porque este ano rememoramos os 10 anos deste crime socioambiental.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Nunca parei com os projetos documentais. E para o futuro, não pretendo parar. Atualmente tenho trabalhado nos projetos “Pós-Vale do Aço”, referente à minha região aqui no Leste de Minas Gerais. “Modos de Ser”, que explora modos de vida religiosos que se esbarram e possuem similaridades, mesmo estando em situações de fé distintas.


