Fotógrafo documentarista em constante deslocamento, nilo2anjos (nome artístico de Nilo dos Anjos Gomes) dedica-se a construir uma memória visual das pessoas, gestos e paisagens do Brasil profundo. Desde outubro de 2022, vive um projeto de longa duração às margens do Rio São Francisco, um trabalho que já rendeu sua primeira exposição solo e que define sua busca por um registro que vai além da imagem, tornando-se testemunho.
A imagem “O Quarto de Despejo“, finalista na categoria Imagem Destacada do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é uma cápsula do tempo carregada de significado. Realizada em 2016 no Beco do Sururu, uma comunidade ribeirinha do Recife posteriormente destruída por um incêndio, a fotografia captura o momento em que crianças brincam diante de um grafite com a icônica frase de Carolina Maria de Jesus. Mais do que uma composição, a imagem é o registro de um encontro transformador que levou o fotógrafo a descobrir a história da escritora, e simboliza perfeitamente sua missão de resgatar e preservar narrativas que correm o risco de apagamento.
Na entrevista a seguir, nilo2anjos fala sobre esse momento decisivo, sua imersão no Velho Chico e seus planos de transformar esse extenso arquivo visual em exposições e um livro.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 57 anos. Vivo e trabalho em campo, em deslocamento pelo Rio São Francisco desde outubro de 2022, em um projeto documental de longa duração. No momento estou em uma pausa breve e morando em Recife.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei em 2013, com seleções e publicações que me levaram a focar cada vez mais na fotografia documental e de rua. Conquistei prêmios e participei de mostras coletivas no Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, com obras publicadas em veículos de imprensa. Em 2025 realizei minha primeira exposição solo na FLIPENEDO, intitulada “Momentos – Rio São Francisco”.
A fotografia, para mim, é testemunho. É o meio pelo qual registro pessoas, gestos e paisagens do Brasil profundo e/ou dos grandes centros e seu cotidiano, construindo memória visual mais do que apenas imagens.



Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
A fotografia foi realizada em 2016, no Beco do Sururu, comunidade ribeirinha no Recife que foi destruída por um incêndio em 2022. Eu acompanhava um colega em uma reportagem sobre o surto de chikungunya que atingia populações carentes, especialmente no Nordeste. Ao caminhar por ruelas e conversar com moradores, vi crianças brincando diante de um grafite com a frase “A favela é o quarto de despejo” e a assinatura de Carolina Maria de Jesus.
Eu tinha 49 anos e nunca havia ouvido falar dela. Fui pesquisar e me surpreendi com sua história e com o apagamento de seu nome no meu percurso escolar. A força daquele encontro me atravessou no instante e fiz a foto. O trabalho se insere de forma natural na minha produção documental, voltada para pessoas, cultura e território.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Sigo ampliando a série sobre o Velho Chico, aprofundando personagens e contextos ao longo do rio. Os próximos passos incluem novas exposições e a organização de um livro. No eixo profissional, mantenho a possibilidade de trabalhos comerciais quando necessário, mas o foco permanece no documental de longa duração.


