Atuando como redator técnico em uma empresa de tecnologia, Thiago Soares passou a fotografar nos trajetos que fazia de casa para o trabalho. Ao dedicar-se de forma mais intencional à fotografia, o caminho que escolheu seguir foi o dos retratos.
Quando veio a pandemia, a necessidade de isolamento social a que todos foram submetidos causou nele uma perda de referência, ao ponto de confundir a própria idade. Ao perceber esses sintomas de confusão mental e também ao se informar de outros casos, Thiago Soares decidiu fazer um ensaio de retratos utilizando-se da técnica de longa exposição, para borrar as feições dos retratados. A série Retratos da névoa é uma das finalistas da categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2023.
Entenda as razões de sua gênese e conheça um pouco mais da atuação de Thiago Soares na fotografia.
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Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 33 anos, vivo em São Paulo, capital, e atualmente trabalho como redator técnico em uma empresa de tecnologia.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Me interesso por fotografia desde 2010, mas apenas em 2016 comecei a fotografar de maneira menos casual. Considero que foi quando passei a fotografar intencionalmente. No início, usava o celular para registrar cenas que via, principalmente, em meu trajeto de casa até o trabalho.
Quatro anos depois passei a me concentrar na produção de retratos, depois de um incentivo de minha companheira na época, que me pediu que reproduzisse com ela a capa do álbum da cantora Kate Bush, Under the Ivy. Desde então, mantive uma produção de retratos, variando entre alguns trabalhos encomendados por músicos e produção pessoal. Contudo, não abandonei a fotografia urbana e, hoje em dia, trabalho com os dois temas, tendo, mesmo na fotografia urbana, o ser humano como tópico de interesse.
Para mim, a fotografia não é apenas registro. É também um meio de expressão. É um modo de dizer ao mundo: “veja isto!”. Inicialmente, serviu como maneira de mostrar, ainda que de maneira incipiente e majoritariamente por meio de redes sociais, as cenas que me intrigavam no cotidiano. Hoje, serve também como maneira de representar algo interno, além de me permitir me conectar com o outro e demonstrar meu interesse pelo ser humano, como sujeito e também como forma.
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Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2023. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Este trabalho nasceu depois de notar que, com o isolamento ocasionado pela pandemia de Covid-19, comecei a esquecer palavras comuns do dia a dia, além de confundir minha idade, porque meu último aniversário comemorado, até então, havia sido o de 2019. Perdi o ponto de referência dos eventos.
Navegando por um site de notícias, vi uma matéria que tratava justamente disso: pessoas vivendo sintomas de confusão mental após o período de quarentena e isolamento mais rígido, não necessariamente ligados à infecção pelo coronavírus, mas como resultado do isolamento em si.
Foi neste momento que decidi falar sobre isso com conhecidos e notei que vários deles também notavam sintomas semelhantes. Quis retratar isso e me utilizei da baixa velocidade para tentar representar, de alguma maneira, esta sensação de fragmentação e enevoamento da memória.
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Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente, tenho contribuído com algumas publicações do fotozine Griz, idealizado por Raphael Grizilli, e também participado das publicações e exposições organizadas pelo fotoclube Bulb f/22.
Para o futuro, pretendo continuar explorando o ser humano como tema, produzindo retratos e explorando as relações entre o sujeito e o urbano.